domingo, 30 de maio de 2010

Transgênicos

Comi e não morri, provavelmente engordei.

Sabedoria popular, há anos promovendo o crescimento da agricultura.

sábado, 29 de maio de 2010

Reptilia

Entrou no carro e ligou o som.

Um pequeno solo de baixo, parece estar ansioso, tum tum tum tum tumtumtumtumtumtmtm, a guitarra junta-se ao coro, turum turum turum, turum turum, a bateria dá o compasso, como se o ritmo fosse imutável, guitarra e baixo diminuem, como pra não chegar ao ápice rápido demais. Uma voz rouca e baixa começa como se não estivesse dando a mínima pro que fala, "He seemed impressed by the way you came in..."

Acelera.
O som continua lento, len,to, l , e , n , t , o , , , , , o grito surge quase como um choque "I SAID PLEASE DON'T SLOW ME DOWN, IF I'M GOING TOO FAST..."

O acelerador cola no chão "YOU'RE IN A STRANGE PART OF OUR TOWN", ele não conhece a música mas grita, é incompreensível, mas segue a batida, então todos se calam e só existe a guitarra taram tororom taram tororomtaramtororom... "YYYEEEEAAAAHHHH", com o grito vem uma avalanche TOROROM TURUTUM PRAM TURUTUM PRAM TARAM TOROROM PRAM... Juntamente com um monte de palavras em desespero até que o ritmo diminui de novo

Curva

lento Tandanlentodaram lento daralentoram dalentora rãm...

"Now every time that I look at myself, I thought I told you, this world is not for you"

Sente os instrumentos, e estão subindo, cada vez mais rápido, subindorápidosubindosubindosubin... "THE ROOM IS ON FIRE..." a guitarra e o baixo estão rápido demais, a voz do cantor muito lenta, a bateria é a dona do ritmo, nada se encaixa, o volume está no último e tudo combina perfeitamente

O motor do carro canta com a música, não há como diminuir.

"I SAID PLEASE DON'T SLOW ME DOWN, IF I'MGOINGTOOOOFAAASSSTTT!!!!!"

Fecha os olhos e abre os braços, "YOU'RE IN A STRANGE,PART OF OUR TOWN..."

Melhor que morrer dormindo.



sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mundo moderno

Júlia queria casar virgem, mas aos 21 anos encontrou seu príncipe, tinha sua idade e era tudo que ela queria, loiro, olhos claros, dentes brancos, bom hálito e todos acessórios inclusos. Não resistiu aos encantos do charmoso, se entregou antes mesmo de completarem três meses de namoro.

Ela estranhou um rapaz tão jovem tendo problemas como aqueles, mas devia ser só o nervosismo. Tentaram no dia seguinte e nada do rapaz mostrar serviço. Ela começou a achar que era sua culpa, e decidiu caprichar mais nas lingeries e nos agrados ao amado, afinal de contas na "Claudia" diziam que sexo era suuuuuuuuuuper importante.

Comprou um conjunto fio dental vermelho, uma bela de uma garrafa de champagne e dirigiram-se pro motel, escolheram a melhor suíte que havia disponível e sorridentes, mais uma vez foram tentar terminar aquilo que nem tinha começado direito.

Não vou me alongar muito neste ponto da história pois não quero que confundam minhas intenções, compreendam que este é um blog de família! Digamos apenas que a coisa não funcionou novamente.

Júlia estava arrasada, não sabia mais o que fazer, vestiu um roupão, falou que ia pegar algo no carro e lá ficou a chorar. Quando finalmente se refez e voltou ao quarto encontrou o namorado vestindo seu sutiã e sua calcinha fio denta enquanto se olhava no espelho de costas pra ela. Não hesitou, encoxou o cara e grudou ele na parede, deu-lhe uns bons tapas na bunda e mostrou o que é que um bom macho deve fazer.

Hoje Júlia mudou de vida, comprou um caminhão no qual roda o país e calça 46, seu hímen continua intacto. Vez em quando passa na Praça da República e vê o ex-namorado fazendo ponto de vestidinho, nunca esquece de dar o grito:

- Eita bunda boa, já comi ein!?!?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carpe diem

Aos 21 anos, depois de oito anos de bebedeira quase ininterrupta , já sabia muito bem de sua úlcera.

Bastava sair para beber à noite e acordava com dores quase insuportaveis no dia seguinte, sua experiência lhe dizia que nos poucos dias em que não bebia o estômago doía um pouco menos, mas a dor quase nunca lhe abandonava, o que confirmava sua tese.

Só se sentia bem quando bebia, cada vez que cavava ainda mais aquele buraco dentro dele, melhor se sentia, o problema era sempre o dia seguinte.

Não ia ao médico, sabia que teria que parar de beber, ou seja, toda uma convivência social criada e calcada no álcool durante oito anos teria que ser revista, algo praticamente impossível, não sabia encontrar os amigos e não falar: - Vamos tomar uma?

Decidiu viver, beber, gritar e ser feliz, afinal de contas o que importa? Melhor uma vida curta e intensa como se escolheu do que uma vida de privações e abstenções.




Não é mesmo?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dead Line

Era um daqueles dias em que quando o ponteiro dos segundos completavam uma volta imediatamente o ponteiro das horas passavam ao número da frente.

A cada vez que olhava o relógio mais rápido parecia que ele trabalhava.

Não aguentou. Foi até a cozinha pegar algo e voltou ao quarto. Levantou o batedor de bifes e estraçalhou o relógio.

Jogou os restos mortais da pequena máquina para o canto, sentou-se e voltou calmamente a escrever seu artigo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Enxergando ao longe

Andava cabisbaixo, estava ficando velho e parece que não conseguia sair do lugar. Precisava dar uma reviravolta em sua vida e sabia disso, só não sabia como.

Foi ao psicólogo, leu livros de auto-ajuda, refletiu e chegou a uma conclusão. Seu problema era pensar pequeno, sonhar baixo, não olhar ao longe!

Levantou a cabeça e olhou com orgulho para a vida, finalmente ia mudar e ser grande. Parecia que juntamente com sua resolução veio também uma mudança em tudo. O mundo sempre lhe aparecia em tons amarelos e pastéis, agora estava azul, verde, amarelo, multicolorido: havia beleza!

Saiu para ver o maravilhoso mundo que se descortinava, andava com passos firmes, sabia que tudo daria certo. Olhava o horizonte, via ao longe agora, esta era sua nova posição frente ao mundo!

De repente tropeçou em uma raiz de árvore, saiu catando cavaco e quando finalmente conseguiu parar notou um fedor horrível. Olhou para a sola de seu sapato e viu a merda de cachorro em que tinha pisado. Possesso, tirou o sapato e jogou longe. No mesmo instante ouviu o grito:

- Cara, você me sujou de merda de cachorro, acabou de encomendar sua morte!

Mal viu o brutamontes correndo em sua direção. Acordou no hospital todo quebrado, o mundo voltou ao tom pastel.

Moral da história: olhe ao longe, mas nunca se esqueça de olhar aonde pisa.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Bom de mira

Sempre guardava o revólver carregado e desta vez não pensou duas vezes, correu para o quarto e voltou para a cozinha, ela estava acuada no canto, disparou dois tiros. Errou, ela fugia pelo corredor, correu balançando a arma e atirando num frenesi ensandecido.

Acabaram as balas, ele parou para respirar.

Quando olhou de novo ela já tinha voado para longe.

- Mosca maldita! Na próxima você não me escapa!

domingo, 23 de maio de 2010

A saga do poema

Era um pequeno poema em um pequeno blog de uma poeta, que não era pequena em sonhos mas era pequena em tamanho.

Esse poema inspirou outro poeta que criou outro poema.

O outro poema inspirou um menino, o que inspirou um romance que inspirou um filme. Os créditos não tinham o nome da pequena poeta, mesmo assim, ela chorou no final.

sábado, 22 de maio de 2010

O Homem

Vi ontem um homem
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O homem não era um mendigo,
Não era um sem-teto,
Não era um ser humano.

O homem, meu Deus, era um bicho.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Descoberta

E não é que as tais borboletas na barriga existiam mesmo?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Inevitável

Hoje pensei ter visto seu rosto.
Somente virei minha cabeça. De soslaio contra as árvores, sua face.
Mas eu apenas vi, as memórias. Nossas memórias.

E não pude evitar. Me apaixonei novamente.

Há carros e rodovias e pessoas, todos tentam me tirar deste lugar em que quero estar. Sou meu único amigo. Minha mãe me diz para manter a cabeça no lugar e te mostrar como é que se joga.

Mas não pude evitar. Me apaixonei novamente.

E de repente eu vejo tudo o que há de belo nas coisas efêmeras. Amor é só um pedaço de tempo em seu mundo.

Não, eu não pude evitar. Eu me apaixonei novamente.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Conclusão

Os bons morrem jovens. Eu envelheço dia após dia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Entre idéias e balas

Estava chegando em uma festa, sozinho, deveria encontrar meu amigos lá. E, diferentemente de muitas pessoas, quando estou sozinho não fico futricando no celular para parecer que estou fazendo algo ou que o mundo ao meu redor pouco importa e estou conectado as pessoas mais legais do universos através de meu telefone móvel.

Supero essas pessoas de longe. Basta eu ficar sozinho por um instante e pronto! Sem ninguém por perto minha mente simplesmente abandona a casca e saí por lugares jamais imaginados (até então).

Mas vamos lá, voltando ao início da história, dizia eu que entrava em uma festa totalmente desacompanhado. Nisso sabe Deus por onde andava minha cabeça, o fato é que tive uma idéia genial, daquelas que me fariam ser lembrado depois que eu morresse e que daria à meus filhos o orgulho de sua ascendência (para os desprovidos de conhecimento: eu, no caso).

Peguei uma balinha de hortelã para dar uma melhorada no bafo, eis que, bem neste momento, levo um esbarrão e a gostosura vai parar no chão, olho desesperadamente à procura e nada! Não estava de um lado e do outro menos, Deus meu, perdi minha bala e minha idéia de uma vez só, o pior é que nem tinha dinheiro pra outra bala, fiquei a ver navios e pior ainda, meus filhos até hoje não tem o mínimo orgulho de mim, se eu pegasse aquele maldito que me esbarrou naquela hora eu juro que fazia ele me dar outra bala!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Todo brasileiro já sonhou ser jogador de futebol

Sempre fui perna de pau.

Eu era tão ruim, mas tão ruim, que em minha breve vida de boleiro fiz o dobro de gols contra que a favor, aliás, não foi o dobro, porque o dobro de zero é zero....

Eis que um belo dia lá estava eu na quadra esperando o fim da educação física quando de repente alguma anta do meu time tocou para mim. Desespero. Que diabos faria eu com aquela bola?? Fiquei prostrado até que um oponente veio em minha direção, toquei entre as pernas do indivíduo e avancei, quando veio o próximo eu simplesmente passei o pé por baixo da bola e lhe dei um bonézinho, nisso eu já escutava os gritos ao meu redor:

- Caramba, olha o cara, parece que andou tendo aulas!

Dei uma meia lua no zagueiro e fiquei de frente o gol, somente eu e o goleiro, seria o gol mais bonito da história, eu mal podia acreditar que tinha acabado de fazer fila e agora seria um golaço. Coloquei toda a força que podia no pé, mirei bem e chutei!

Acordei gritando de dor. Chutei a parede, quebrei o dedão e tive que usar só havaianas por mais de um mês.

domingo, 16 de maio de 2010

Tempos modernos

João estava na pior.

Acabara de ser despedido, o aluguel estava para vencer e tinha várias contas atrasadas.

Não havia solução, e o que não tem solução solucionado está.

Curtia uma bela de uma fossa quando chegaram dois amigos:

- Vai ter uma festa à fantasia maravilhosa no centro hoje, vamos sair dessa deprê!
- Você está convocado, não quero nem saber se você está falido, teu ingresso pra festa nós pagamos, você só tem que se virar com o resto.

Se estivesse em sã consciência João simplesmente ignoraria a insistência deles, o problema é que já estava há mais de uma semana curtindo blues e vivendo de miojo cru, seu cérebro mal respondia aos estímulos:

- Vamos então!

Levantou-se do sofá que já havia afundado com seu peso tantos dias ali prostrado e foi alugar uma fantasia. A mais barata que havia sobrado na loja era a de Charles Chaplin, como há dias não fazia a barba, daria pra fazer o bigodinho bem idêntico. O dinheiro de João era tão pouco que mal deu pra fantasia, sobrou o pouco do ônibus e pra UMA cerveja, mas estava feliz:

- Já está quase tudo ferrado mesmo, vamos mandar o resto às favas!

Arrumou-se como se fosse sua última festa, caprichou no bigode e a fantasia ficou perfeita, não tinha a mínima idéia do que seria sua vida dali pra frente, mas decidiu que não se importaria com isso, tiraria o máximo que podia daquele momento e que Deus o ajudasse.

A festa estava lotada, porém João dançou como se ninguém estivesse olhando, sorriu como se o mundo fosse perfeito, cantou como se fosse o Ney Matogrosso e bebeu tudo o que podia, inclusive da bebida dos amigos e com dinheiro da passagem de volta pra casa.

Acordou na sarjeta com o sol da manhã batendo em sua cara. Sua roupa estava suja, rasgada e amarrotada, não tinha nada nos bolsos. Resolveu andar a esmo, não tinha mesmo para onde ir, seu apartamento não seria seu dali a uma semana.

Parou em uma praça, o movimento do dia apenas começava. Sentou-se em um banco e colocou o chapéu do lado, ficou olhando as pessoas irem e virem.

De repente um homem veio em sua direção, colocou uma nota de dois reais em seu chapéu e lhe disse:

- Bom dia Chaplin!

João começou a rir, o dia estava lindo e o destino lhe dera uma nova vida.

Nunca devolveu a fantasia. Hoje em dia João pode ser encontrado fazendo performances de Charles Chaplin no centro de São Paulo, está casado e ano que vem pretende ter seu primeiro filho.

sábado, 15 de maio de 2010

Já diziam as boas línguas

Sete horas da noite de sábado. Merda. Isso lá era hora de entrar no trabalho?

Eu definitivamente precisava abandonar esse emprego de frentista, mas como é que ia pagar as contas sem emprego? Custei conseguir aquele para trabalhar ali na beira rodovia limpando pára-brisas e enchendo o tanque de algum perdido à altas horas da madrugada.

A loira estava por cima de mim enquanto a morena estava de joelhos ao meu lado beijando-a, eu já estava completamente louco quando as duas começaram a desabotoar minha calça. Tiraram o material pra fora e a morena mordeu os lábios me olhando com cara de safada, a loira me encarou e foi abrindo a boca delicadamente, o que ela falaria naquele momento com certeza seriam as palavras que eu mandaria escrever na minha lápide... BBBIIIII BBBBIIII!!!!!

Não acreditei no que estava ouvindo, olhei para a boquinha da loira novamente pra ter certeza do que estava acontecendo... BBBBBBBBBBBBBBBBBIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!

Como alguém pode ser humanamente tão filho da puta para tirar uma pessoa de um sonho como esse? Me levantei meio zumbizando e pronto para xingar o estrupício que me tirou o melhor sonho da minha vida.

Fui me aproximando da bomba de gasolina e quando vi o carro paralisei, meus músculos se retesaram e fiquei olhando pro cara. Se já estava difícil acreditar que eu estava tendo um sonho bom daqueles, imagina como é que eu ia acreditar no que estava vendo agora?

Só percebi que ainda tinha sentidos quando ouvi o grito:
- O mané, enche logo a porra desse tanque que eu já estou atrasado!
-....................................................
- O que foi cara, não tá afim de trabalhar não?
Tentei fazer a língua funcionar, mas a voz não saía direito:
- Ma, mas, mas, vo, vo ,você...
- Desembucha caraleo!
Em um esforço supremo soltei tudo o que tentei falar na frase anterior:
- MAS VOCÊ É O BATMAN!!!
- E daí que eu sou o batman? Por acaso você achava que eu tinha o super poder de mijar gasolina e quando tinha que ir ao banheiro eu enchia o tanque?
Acho que nem escutei o que ele estava falando, voltei ao estado de zumbi:
-...Batmóvel...
- Tu é retardado ou o que rapaz? Bota gasolina aí antes que eu te mostre porque me chamam de cavaleiro das trevas!

Peguei a mangueira e a portinhola do tanque se abriu, enfiei o negócio e fui enchendo o tanque, tentei olhar pra dentro do carro mas era muito escuro, só dava pra ver lá dentro pela janela do Morcegão. Fui colocando a cabeça de lado pra tentar enxergar alguma coisa, sei lá, tipo um botão lança mísseis ou qualquer coisa do tipo, foi quando percebi alguma coisa se mexendo:
- ROBIN? MAS O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO MEIO DAS PERNAS DO....

Caí! O carro arrancou com tudo levando a mangueira da gasolina junto, como eu tava na frente levei a maior rasteira! Levei uma puta bronca do patrão e tive que trabalhar três meses de graça pra pagar o estrago na bomba de gasolina. Eu tinha ganhado mais se tivesse ficado com a loira e a morena.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Fugaz

Esperava no terminal quando o ônibus parou.

Não era o meu. Prestei atenção às pessoas que entravam e iam até o fundo quando cruzei meus olhos com os dela.

A mão no queixo mostrava a aliança e a impaciência. O cabelo, negro e curto, emoldurava, valorizava e contrastava com a pele branca de seu rosto. Tinha olhos de jabuticaba enormes, nariz e boca finos. As orelhas brincavam de esconder atrás dos cabelos e somente as pequenas argolas do par de brincos denunciavam sua existência.

Beleza.

Olhava meus olhos fixamente. Eu não conseguiria, nem que quisesse, evitá-la. As duas jabuticabas pareciam querer me falar algo, eu só queria continuar ali e não deixar jamais acabar aquele momento.

Minhas mãos suaram e comecei a tremer. Não podia perdê-la, era claramente o meu par ideal se materializando para que eu enfim deixasse de sonhar e pudesse realizar a vida que imaginara com aquela que eu queria.

Sem dúvidas ela também estava mexida, apesar da aliança no dedo eu podia compreender que havia algo entre nós que superava quaisquer vínculos feitos de pedaços de metal, mesmo que precioso.

De repente o motorista acelerou e o ônibus começou, devagar, a sair. Partiu e levou com ele aquela que poderia ter sido o amor da minha vida e que agora não passa de um post deste blog.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sorrir faz bem

Estava andando.

Sem pressa, estava no horário e minha mente - pra variar - estava em algum lugar muito longe do meu corpo. Não tenho a mínima idéia da merda que o tico e o teco fizeram neste momento, só sei que dei um sorriso enorme e olhei para a frente, coincidentemente meu olhar cruzou com uma mulher que estava passando. Putz! Pensei eu, será que ela achou que eu estava rindo dela?

Olhei pra trás para tirar a dúvida e a bendita também estava me olhando, pior ainda, eu tinha esquecido de tirar o sorriso da cara!

Minhas memórias acerca do que se passou depois disso são vagas.

Foi a primeira vez que apanhei de mulher.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

- Que porra é essa doutor? Eu não vou dançar tango merda nenhuma, não sou argentino, tá me achando com cara de boiola?
- Se você não sabe dançar tango pode ser bossa nova...
- Tu tá me achando com cara de bicha doutor? Ô mãe, mandaram o Carlinhos de Jesus no lugar do médico!
- Peraí rapaz, só falei assim pra fazer poesia...
- Poesia é o caralho! Mãããeeee, traz meu 38 novo que vou estrear o danado!
- ...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Meia história de amor

Sem dúvidas eram o par mais lindo da fábrica.

Tanto que nem puderam viver seu amor em paz por muito tempo, logo foram despachados pra uma loja no interior de São Paulo, tão interior que era praticamente Minas Gerais, a diferença só era perceptível no mapa.

Pois nem faziam bem dois dias que estavam na nova loja quando foram interrompidos bem na hr H! Não houve o que se fazer, lá foram eles, juntinhos, embora pra casa, imaginando o que seria de suas existências.

Ficaram em um canto escuro, sem se separar por um segundo que fosse, nem pra ir ao banheiro, e afinal de contas isso não era necessário mesmo. O que eles faziam era praticamente a concretização daquela música da Cássia Eller (ou do Cazuza, ou do Barão Vermelho, sei lá...), "ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida..."

Dois dias depois tiveram suas pacatas existências abaladas, num furor violento foram arrancados um do outro, não entendiam o que estava acontecendo, só sentiam todo seu corpo sendo apertado e comprimido contra uma espécie de parede, apesar da loucura do que acontecia, foram deixados à uma distância em que era possível se verem e falarem:

- Amor, volte pra mim!
- O que está acontecendo minha fofinha?
- Também não sei meu morninho.
(não continuarei o diálogo para que esse melado não escorra no teclado de ninguém e depois ainda venham me processar por estragar o computador alheio!)

Depois de várias horas desse melodrama mexicano eles foram jogados, já exaustos, em um lugar escuro e fedorento, estavam juntos, porém não podiam ver nada, apenas sentiam aquele cheiro horrível.

- Amore mio, que pútrido cheiro será esse?
A voz veio de um lugar que não conseguiram reconhecer, era grossa e retumbou como se fosse um tambor:
- Nunca sentiu cheiro de chulé não ô coalhada azeda? Você fala como se estivesse numa novela do Ruy Barbosa, esse ar todo sedoso não me engana não rapá, tu é boiola!

Diante de tamanha violência nosso herói simplesmente ficou mudo, aquela voz de trovão calou toda e qualquer coragem que havia no coitado.

Fez-se o silêncio, nosso intrépido casal adormeceu, só acordaram com uma tremedeira brusca que acometeu o ambiente. De repente ele se encontrava só. Sua amada tinha sido levada e estava na mesma posição do dia anterior quando ficaram separados podendo apenas gritar um para o outro, porém dessa vez ao seu lado não estava aquele com quem ela queria dividir sua existência, agora era preto, muito maior do que ela, tinha aparência rústica e grosseira, eram totalmente diferentes, ela era extremamente branca (à distância diria-se até que era feita do mais puro algodão), pequenina e singela.

Na primeira palavra ela reconheceu que era a voz assustadora do dia anterior. Ele lhe lançou as mais belas cantadas:

- Tem dois ovos em cima da ladeira
Ela tentou evitar, mas a curiosidade a impediu:
- E daí?
- Rola ou não rola?
O esforço que ela fez para se segurar foi enorme, ele conseguira mexer com seu coraçãozinho, mas lutou e por fim conseguiu manter a postura de séria, o problema é que ele estava só começando...
- Seu nome é Tamara não é?
- Não, por que?
- Porque você TAMARAvilhosa!
Ela simplesmente fechou os olhos e se lembrou daquele que tinha povoado seus sonhos por tanto tempo, o romantismo que ele colocava em cada palavra. O problema é que aquela coisa preta tinha um sorrisinho tão diferente, tão, tão... sacana... ela sabia que apenas a sombra de um sorriso seu poderia dar brecha para aquele grosso e fazê-lo ir adiante com as investidas, fez o que podia: fechou a cara.
Diante da impassividade dela ele não se deu por vencido:
- Lindeza, eu não sou o banco itaú mas fui feito pra você!
- O que esse bombonzinho tá fazendo fora da caixa?
- Se beleza fosse crime você pegaria prisão perpétua!

Depois de tudo isso ela já não conseguiu mais se segurar! Abriu a boca para gritar que sim, que estava louca por ele, ia se entregar por inteira, queria ser jogada na parede e ser chamada de lagartixa... foi quando ouviu várias gargalhadas. Milhares de crianças ao redor deles os olhavam e riam, apontavam e gritavam:

- O Carlinhos usa meias de cores diferentes!
- kkkkkkkkkkkkkk
- O Carlos não sabe diferenciar meia branca de meia preta!
E riam feito loucas, as crianças se esbaldavam, alguns menores chegaram a molhar as calças de tanto rir e tiveram que correr para o banheiro.

Carlos correu pra longe da multidão, tirou o tênis, arrancou as meias e jogou as duas no lixo!

- Enfim sós ein meu pedacinho de algodão?
- Nem me fale meu carvãozinho, já não aguentava mais te esperar!

E viveram fedidos para sempre!

Ou vocês estavam realmente pensando que uma mulher ia cair nessas cantadas?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Bicicletas

Todo mundo tem uma bicicleta.

No início temos que andar de rodinhas, pois ainda não sabemos andar sozinhos.

Com o tempo aprendemos a andar corretamente sem ajuda e tiramos as rodinhas. Crescemos, e a bicicleta também.

Chega um momento em que carregamos outras pessoas no cano, não é o jeito correto de se fazer as coisas, mas é divertido, e fazemos isso durante muito tempo até que estejamos prontos para o próximo passo.

O próximo passo é abandonar a antiga bicicleta e aprender a andar em uma bicicleta de dois lugares. No início é complicado: quem é que vai ao guidom? Qual direção tomar? Qual a velocidade? Definir isso pode ser um problema, mas o importante é continuar pedalando.

O fato é que as bicicletas de dois lugares são as melhores, pois permitem ir muito mais longe que as demais, principalmente da solidão.

Nada é mais triste que estar sozinho em uma bicicleta de dois lugares.

domingo, 9 de maio de 2010

O melhor filme que NÃO vi

Não me recordo se alguém comentou comigo, se li no jornal ou se foi criação de minha mente, o fato é que o nome do filme era "Houve uma vez dois verões".

Há livros e filmes que poderiam muito bem passar sem um nome, existem, inclusive, milhares de quadros e fotografias sem nome, "Houve uma vez dois verões" era um nome que não precisava de filme.

O nome ressoou na minha cachola, "Houve uma vez dois verões", lindo nome. Em tempos em que o twitter diz que 140 caracteres são suficientes para se expressar, esse título era praticamente o supra sumo das poucas palavras, uma poesia em forma de título.

Mas afinal de contas, do que trataria um filme com um nome desses?

Se houve uma vez dois verões isso quer dizer que apenas uma vez existiram dois verões, depois disso se sucederam apenas as outras estações. Provavelmente por isso quando alguém já atingiu idade o suficiente para querer parar de contar diz que já viveu muitas primaveras, sempre primaveras, porque verões houveram só dois, ou seja, insuficientes para contabilizar a idade do ancião.

Outra possibilidade é a de que um ano ao invés de quatro estações houveram cinco, posto que o verão se repetiu, e portanto as estações correram mais rápido que o normal e foi o ano em que a Kibom mais faturou em sua história.

Poderíamos pensar também que ao invés de cinco estações no mesmo ano, tivemos a substituição de uma das outras estações por mais um verão, a sucessão das estações seria, por exemplo: verão, outono, verão e inverno. O que na verdade seria ótimo para o mundo fashion, já que uma coleção verão inverno poderia inovar em muito o já batido casaquinho, pulôver e jaqueta do outono inverno ou os biquínis, cangas e shortinhos da primavera verão. O uso de biquínis com botas de cano alto e cachecol não seria o mais puro luxo?

Outra possibilidade é que o diretor do filme era um anta semi analfabeta e o nome correto do filme seria "Ouve uma vez dois verões", sendo que a mensagem do título era só pra confundir e gerar curiosidade nas pessoas, que não sabendo o que esperar de um filme com um nome desses acabariam assistindo só pra descobrir o motivo da bendita nomenclatura.

Por último e não menos importante - sim, eu perdi muito tempo da minha vida imaginando o que esse danado desse nome poderia significar - e ainda perseguindo a possibilidade do diretor do filme ser uma anta semi analfabeta, quem sabe o verdadeiro nome do filme não fosse "Houve uma vez dois varões", ou seja, um precursor de Brockback Mountain (assim que se escreve)?

Todos esses devaneios tem a possibilidade de estarem corretos, mas o mais provável é que este filme nunca tenha existido e minha imaginação tenha me pregado outra peça, ou não.

sábado, 8 de maio de 2010

Casas entre bananeiras

Uma vez sonhei que acordei.

Era tudo tão igual e o de sempre que não me dei conta que estava sonhando.

A água estava gelada e escovei os dentes até me dar conta de que provavelmente estava atrasado, como sempre não estava. Sentei na mesa e comi o de sempre com o café com leite que mesmo não sendo o de sempre tinha o gosto do de sempre.

Peguei o ônibus até o centro e peguei o outro ônibus, que era um ônibus diferente do ônibus anterior mas ainda assim era o de sempre. As conversas eram as de sempre.

Me vejo a cada dia com um humor e um sorriso, uma nova expressão, piadas e roupas, mas neste dia eu entendi, na verdade finalmente pude perceber que isto era uma farsa que eu fazia diariamente. E pior ainda, descobri que eu não era o mesmo de sempre, eu era o mesmo sempre.

Engraçado como a mente da gente consegue projetar um sonho e pensar ao mesmo tempo.

Cheguei à faculdade e assim que desci do ônibus achei uma raspadinha, e por incrível que pareça ela estava premiada, isso mesmo, haviam três 50 centavos na cartela, ou seja, eu tinha ganhado 50 centavos! Comecei a rir, eu ganhando algo? Era óbvio, claro e límpido: eu estava sonhando!

Eita vida besta meu Deus!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Desespero

Rugas, mais e maiores a cada vez que via sua vida.

Um milhão de problemas.
E o dobro disso de compromissos.
O triplo de tarefas.
Sabe Deus mais quantas ocupações.

E haviam os amigos.

Sorriso.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

You have a message

Domingo.

Ressaca.

Abri o celular pra olhar as horas e lá estava ela, não tenho a mínima idéia das horas que em um ato mecânico eu pretendia saber, na parte superior do celular o desenhinho de uma mensagem.

Fiquei olhando pra ela. Grogue de sono eu tentava racionalizar o que era aquilo. Não sei se era o álcool que ainda não tinha saído totalmente do meu corpo ou o que, mas meu pensamento ao invés de ficar preso na cachola começou a sair pela minha boca, e ainda por cima havia um interlocutor que também era eu (pelo menos acho...):

- Não era pra essa mensagem estar aí em cima, ela tinha que aparecer na tela inteira!
- Mas não está.
- Será que tenho uma mensagem na caixa de entrada?
- Não, nada disso! Essa mensagem aí no SEU celular quer dizer que o SEU PAI recebeu uma mensagem!
-............. (cara de porta)

Diante da eloqüência da voz de minha própria consciência fui chegar a bendita da caixa de mensagens.

E aí fomos surpreendidos novamente!

Não havia mensagem.
Voltei a tela inicial do celular e advinhem só...

NÃO HAVIA NEM SINAL DAQUELE ÍCONE DE MENSAGEM!!!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sobre o amor e a perfeição

Pra mim o amor tem que ser trágico.

Só me interessam aquelas histórias de amor com finais infelizes, onde as únicas flores são as do enterro e só resta morte e desespero no final.

Sim, não me contento simplesmente com um Romeu e Julieta qualquer, com os amantes morrendo juntos no final e - sabe lá se não era a intenção - talvez se encontrando no paraíso pra viver sem Capuletos ou Montecchios a lhes torrar a paciência ad infinutum.

Gosto do desespero, do amor solitário, daquelas histórias em que um se vai e o outro fica eternamente a remoer tudo o que poderia ter sido e não foi, seja por que alguém morreu, fugiu com outra ou porque havia feito uma promessa de se internar no convento e abandonar o que havia de bom na vida pra se dedicar à chatice da rotina eclesiástica.

Não sei o motivo de meu apreço pela desgraça amorosa - não, não é despeito de algum malfadado caso meu que me deixou amargurado - talvez eu tenha sido excessivamente influenciado pelo Do Contra do Maurício de Souza ou então eu seja um sádico e não saiba. O caso é que odeio todo e qualquer filme em que o final me venha com um "E viveram felizes para sempre", a fala me dá náuseas e sinto uma necessidade imediata de ar puro, minha respiração fica falha e sinto necessidade extrema de um cigarro (não, eu não fumo).

Pensando melhor, talvez essa particularidade tenha relação direta com o fato de eu odiar toda e qualquer utopia. Imaginar um mundo perfeito, com todo mundo feliz em um dia ensolarado correndo pelo campo enquanto outros se regorjizam em conversas saudáveis bebendo suco de frutas só me faz imaginar uma coisa: suicídio.

"Imagine" de John Lennon é uma belíssima canção, porém se se concretizasse minha única saída seria o suicídio ou o terrorismo. Jamais poderia admitir a perfeição, pelo simples fato de que o que nos faz humanos é exatamente a imperfeição. No decorrer do tempo os animais e a natureza construíram um mundo perfeito e harmônico, em que todas peças se encaixavam e até mesmo certos desvios padrões eram calculados para que as coisas voltassem à sua situação primeira. Eis que então surge o homem - o único "erro" dessa mãe natureza perfeita - e bota tudo de cabeça pra baixo: destrói, queima, mata, enfim, o homem inventou a MUDANÇA, e ela era linda!

Erre, chore, se desespere, faça as coisas darem errado, perca o grande amor da sua vida, derrube uma árvore, queime o politicamente correto e faça tudo isso sem motivo algum.

Seja humano, seja imperfeito.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Home, sweet home

Mal de Alzheimer: Doença degenerativa, seu principal sintoma é a perda gradual da memória dos pacientes.

As pernas mal funcionavam sem uma muleta humana pra ajudar, assim como quase todo o resto. Esticou o braço:
- Me ajuda a levantar.
- A senhora quer ficar um pouco sentada ou quer que eu pegue a cadeira de rodas pra tomar um ar lá fora?
- Não, só me levanta pra eu ir embora.
- Embora pra onde?
- Pra onde? Ora pra onde, pra minha casa uai!
- Uai nada, aqui é a casa da senhora, presta atenção pra ver. A cama da senhora, seu guarda-roupa, sua televisão, a estante da senhora com seus santos...
- Mas não é minha casa nã...
- Lógico que é, olha tudo o que eu estou falando.
- Mas então cadê o Zé?
- ...
- Cadê meu marido?
A deixei lá pra ver se ela esquecia, ela não conseguiria se mover mesmo! Como é que eu poderia explicar pra uma pessoa de 84 anos que ela simplesmente não tinha mais casa?

sábado, 1 de maio de 2010

Passos de formiga sem vontade

E assim foi levando a vida.
Um monte de merda pra todo lado, mas bastava levantar a cabeça e olhar pro horizonte, ou então falar ao celular com alguém até chegar a um lugar fechado, seguro, onde as paredes o impedissem de olhar além do próprio umbigo.