Era sexta feira mas estava de bom humor, finalmente dois dias de descanso. Tinha chegado cansado do trabalho, arrumara tudo o que precisava e sentou-se no sofá da sala para ver o jornal, os filhos tinham saído e provavelmente só voltariam no dia seguinte. Quase no fim do jornal a mulher sentou-se a seu lado.
- Fala Tião!
- As crianças saíram meu bem...
- Que crianças Tião? Aqueles marmanjos já estão é na hora de sair de casa! Respondeu ela sem tirar os olhos da TV.
- Ai amor, é tão bom quando ficamos sozinhos...
Só então ela percebeu as más (ou boas, aí depende da sua cabeça) intenções do marido.
- Pelo amor de Deus Tião, isso é hora?
- E desde quando a gente precisa de hora pra isso Tetéinha? Disse ele com um sorriso maroto nos lábios.
Finalmente ela desgruda os olhos da televisão e olha para o marido.
- Você já teve o seu desse mês homem, agora dá licença que eu vou ver a minha novela!
- Mas Tetéinha...
- Não tem nada de Tetéinha, vai logo pro banho que você já está fedendo, e não quero ouvir mais nenhuma palavra que começou, olha só, você me fez perder o começo da novela!
Revoltado, mas sem ter o que fazer, Tião foi para o banho, colocou a água no gelado e ficou a ensaboar-se. Quando já estava acabando o banho escutou um barulho violentíssimo na frente da casa, enrolou a primeira toalha que viu na cintura e correu pra ver o que estava acontecendo. Ao passar pela sala viu a mulher pasma de pé olhando pela janela, saiu pela porta e entendeu.
Parou no meio da garagem e prestou atenção aos detalhes daquele acontecimento tão insólito. De alguma maneira uma caminhonete se arrebentou entre o muro e o portão de sua casa, o motorista parecia desacordado. De repente um barulho: Iiinnnhhheeeeccc... Foi o tempo de Tião pular para trás, seu portão de dois mil reais novinho em folha se arrebentou no chão. Provavelmente por causa do barulho o rapaz do carro acordou e abriu a porta amassada do veículo, aparentava cerca de 20 anos de idade, saiu meio capengando de um lado para o outro, quando finalmente conseguiu se firmar olhou bem para o meio da garagem e viu Tião parado.
- Ôôô rapaiiz, acho que eu encostei no seu portão um tiquinho né? "Percupa" não que eu coloco no lugar amanhã! Kkkkkkk!
- Levantar nada, você vai ter é que me comprar outro seu malandro!
- Não é por nada "tio", mas o senhor aceita cartão? Kkkkkkk.
Parece que essa piada era bem mais engraçada para o motorista que para Tião, o dono da casa mal acreditou no que ouviu, para piorar a situação o moço sentou no chão e danou a gargalhar.
Ao ouvir isso o "muleque" ficou quieto, olhou diretamente nos olhos de Tião e disse com um ar muito sério:
- Antes de me ofender acho melhor o senhor pensar bem no que fala viu? Eu não mexo com droga nenhuma, só fumo e cheiro! Kkkkkkkkkkk.
Não se sabe muito bem se foi a piada ou os acontecimentos anteriores que motivaram Tião, mas o caso é que ele partiu com tudo pra cima do rapaz que ainda estava sentado no chão, depois de uns três socos no ar e uns dois no alvo Tião escutou a sirene e os gritos, ninguém sabe quem os chamou ou de onde apareceram, ele só percebeu quando o seguraram e jogaram pra dentro do camburão.
Ao chegar na delegacia abriram as portas da viatura.
- Pode descer Pato Donald!
Tião não entendeu nada e nem achou que era com ele até levar o puxão no braço e ouvir o grito:
- DESCE LOGO PATO DONALD!
Só então se deu conta do que acontecia, além de estar só de toalha na delegacia, deu o azar de estar com uma toalha antiga de um dos filhos que tinha uma cara enorme do Pato Donald estampada. Ligou para o primo advogado salvá-lo.
Chegou em casa às três da manhã morto de cansaço, a mulher e os vizinhos tinham colocado vários papelões para fazerem as vezes de portão até o dia seguinte. A esposa o esperava deitada com a luz acesa.
- Deu tudo certo amor?
- Uai Ana, tirando o fato de serem três da manhã e eu não ter dormido nada ainda e de termos um portão pra consertar amanhã, até que está tudo bem, além da minha gastrite nervosa claro! Foi respondendo ele enquanto deitava ao lado da esposa.
- Sabe o que é Tião? Disse ela enquanto passava as mãos na careca do marido.
- O quê?
- É que você estava tão másculo brigando com aquele menino mais cedo... Aquela toalhinha e seu ar de irritado te deixaram tão sexy amor...
- Então, sabe o que é Ana?
- O que Fofucho? Rebateu ela dando um pulinho na cama para o lado dele se insinuando e sorrindo.
- Nada amor, nada. Boa noite. Virou para o lado e apagou a luz.
PS: Pessoal, desculpe estar meio sumido do mundo blogueiro, mas é que as faculdades me apertaram, mas sempre que der eu apareço!