quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sobre o amor e a perfeição

Pra mim o amor tem que ser trágico.

Só me interessam aquelas histórias de amor com finais infelizes, onde as únicas flores são as do enterro e só resta morte e desespero no final.

Sim, não me contento simplesmente com um Romeu e Julieta qualquer, com os amantes morrendo juntos no final e - sabe lá se não era a intenção - talvez se encontrando no paraíso pra viver sem Capuletos ou Montecchios a lhes torrar a paciência ad infinutum.

Gosto do desespero, do amor solitário, daquelas histórias em que um se vai e o outro fica eternamente a remoer tudo o que poderia ter sido e não foi, seja por que alguém morreu, fugiu com outra ou porque havia feito uma promessa de se internar no convento e abandonar o que havia de bom na vida pra se dedicar à chatice da rotina eclesiástica.

Não sei o motivo de meu apreço pela desgraça amorosa - não, não é despeito de algum malfadado caso meu que me deixou amargurado - talvez eu tenha sido excessivamente influenciado pelo Do Contra do Maurício de Souza ou então eu seja um sádico e não saiba. O caso é que odeio todo e qualquer filme em que o final me venha com um "E viveram felizes para sempre", a fala me dá náuseas e sinto uma necessidade imediata de ar puro, minha respiração fica falha e sinto necessidade extrema de um cigarro (não, eu não fumo).

Pensando melhor, talvez essa particularidade tenha relação direta com o fato de eu odiar toda e qualquer utopia. Imaginar um mundo perfeito, com todo mundo feliz em um dia ensolarado correndo pelo campo enquanto outros se regorjizam em conversas saudáveis bebendo suco de frutas só me faz imaginar uma coisa: suicídio.

"Imagine" de John Lennon é uma belíssima canção, porém se se concretizasse minha única saída seria o suicídio ou o terrorismo. Jamais poderia admitir a perfeição, pelo simples fato de que o que nos faz humanos é exatamente a imperfeição. No decorrer do tempo os animais e a natureza construíram um mundo perfeito e harmônico, em que todas peças se encaixavam e até mesmo certos desvios padrões eram calculados para que as coisas voltassem à sua situação primeira. Eis que então surge o homem - o único "erro" dessa mãe natureza perfeita - e bota tudo de cabeça pra baixo: destrói, queima, mata, enfim, o homem inventou a MUDANÇA, e ela era linda!

Erre, chore, se desespere, faça as coisas darem errado, perca o grande amor da sua vida, derrube uma árvore, queime o politicamente correto e faça tudo isso sem motivo algum.

Seja humano, seja imperfeito.

4 comentários:

  1. esses romances açucarados que nos matam de diabetes!!! romances utópicos são beeeem desagradáveis, até pq raramente terminam bem (horror a casamentos...haha). O bom está na incerteza, nos desentendimentos que trazem a dúvida que dispara o coração dentro do peito. Finais trágicos também são mais emocionantes, mas...se no final tudo der certo, pq não?

    ResponderExcluir
  2. Pq não?
    Boa pergunta. Sei apenas que me parece inaceitável, prefiro o desconforto! rsrs

    Já fugi de finais felizes diversas vezes só por isso, porque eram... FELIZES!
    rsrs

    Ou talvez seja simplesmente pra ter algo com que me arrepender e martirizar no futuro, sei lá...

    ResponderExcluir
  3. [...]"Erre, chore, se desespere, faça as coisas darem errado, perca o grande amor da sua vida, derrube uma árvore, queime o politicamente correto e faça tudo isso sem motivo algum.


    Seja humano, seja imperfeito."

    O.o

    Eiii!

    O politicamente correto é tão humano quanto o "politicamente incorreto",por isso,deve haver um equilíbrio aí!

    Vamos com calma!

    A imperfeição é bonita,mas na medida certa! ;)

    Qual é a medida certa?
    Aquela que não nos impeça de ser feliz! \o/

    Bjinhos***

    ResponderExcluir
  4. As vezes podemos fugir de finais felizes por medo!
    Sim, medo justamente de dar certo!
    Já tive esse medo e conheço muitos amigos q tmb tiveram.
    Não é errado esse medo, aliás é até bom!
    Dar um passo maior, tomar responsabilidades para si, não são todos q fazem isso e muito menos aqueles q conseguem manter essa harmonia!

    Errar é humano sim, e aqui está a beleza cativante do que vc escreveu!
    Esse, sinceramente, foi uma das coisas mais incríveis q eu já li entre tudo!

    Mas errar significa tmb tentar acertar!
    Ousar e buscar por algo maior q nós mesmos!
    Podemos falhar miseravelmente, mas mesmo assim não desistiremos!
    Utopias não podem ser alcançadas, mas podem permear nossa mente pela busca de algo melhor...

    No entanto, no fim digo q temos q ser nós mesmos.
    A pior traição é quando traímos a nós mesmos, entende?

    Acho q meu comentário foi meio viajado, mas de certa forma é bom, pois vc me fez refletir muito com oq escreveu!

    Muito bom Math!

    Não esperava menos de ti!

    ResponderExcluir