sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Argentina e Chile, aí vou eu!



Galerinha do mal, me desculpem pelo sumiço tanto do meu blog quanto dos que sigo, acontece que eu estava em um corre corre só preparando minha viagem, estou indo amanhã para a Argentina e para o Chile, países onde ficarei por 18 dias. Pretendo bloggar de lá, espero que consiga fazer e isso e ainda visitar os blogs que tanto gosto, mas se não der na volta eu leio tudo!

:)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Alcoólatras mais que costumazes 3


Marcos

- “Qual seu nome mesmo?” Eu já estava começando a ficar irritado com essa pergunta.

- Matheus. E o do senhor?

- “Marcos. Então, Matheus, você tem família?

- Tenho sim.

- “Então, rapaz, do que você gosta?” Faço cara de desentendido.

- “Do que você gosta uai, uma macoinha, pó, pedra...”

- Não, eu não mexo com isso não.

- “Que isso rapaz, não precisa esconder não, sou seu amigo! Mas tudo bem, se não quer falar não precisa, mas você consegue sustentar seu vício por você mesmo, sem precisar da sua família?”

- Não seu Marcos, não faço isso não!

- “Já vi muita família acabar pra ajudar rapaz assim que nem você. Vou te dar um conselho, bebe sua cervejinha, fuma sua macoinha, eu até tenho um pouquinho aqui se você quiser... Dizendo isso ele vai enfiando a mão no bolso!”

- Não, não. Não quero não, Marcos.

- Então, mas bebe e fuma em casa, sozinho, não mistura com bando não, depois você não consegue sair. Há muitos anos que eu estou no trecho, na rua. Se você entrar com um bando acabou!”

- Eu não faço isso, seu Marcos, só tomo uma cervejinha.

Me olha desconfiado. De minuto em minuto é possível escutar a voz do China cantando rap: “eu bebo sim, e to vivendo, tem gente que não bebe e tá morrendo, PAZ!” ou do Tião Carreiro dando sermão “lealdade, honestidade e humildade”, olho para trás e o vejo virando um copo inteiro de pinga, ao notar meu olhar ele rapidamente se desfaz do copo jogando-o de lado. Mas voltemos a conversa com nosso sábio amigo Marcos, que jurava de pés juntos que eu usava drogas:

- “Se você conseguir sustentar seu vício sozinho tá bom. Já vi muita coisa nessa vida meu filho”. Pega uma caixa de palito de fósforos e os espalha no banco. “Se um traficante está aqui”, me aponta um dos palitos, “e te oferece duzentos reais pra levar a droga que está aqui pra essa pessoa aqui”, me aponta outros dois palitos, “você não aceita, ninguém faz isso por menos de quinhentos reais, mas aí ele te oferece trezentos, até que é pertinho, você aceita. Aí chega a veraneio, de quem é a droga? É sua! Tá na sua mão! Você não pode entregar os irmão!” Ele me encara e percebe meu olhar de espantado.

- “É rapaz, não é só alegria não!”. Guarda os palitos na caixa, pega uma pedra e começa a rabiscar, faz um quadrado e o divide em quatro. “O que você faz com isso?” Não entendi direito, será que era um jogo? Ele porém não me deu tempo de pensar. “De cá e de cá ficam os irmãos”, diz ele apontando dois quadrados, aponta os dois restantes e conta, “no outro ficam os vagabundos, só estuprador filho da p#t*, e no outro fica a cozinha e o campo de futebol, só isso, aí tem vigia aqui, aqui, aqui e aqui” descreve apontando para os cantos do quadrado, “o que você faz aí? Não faz nada! Já estive aí, sei tudo de penitenciária, nunca mais!”, se levanta gesticulando meio indignado, juro que não falei nada pra ele ficar assim, “mas se você quiser continuar o problema é seu!”, tomo mais um grande gole do copo dele e voltamos para o grupo.

Drézão é o primeiro a puxar assunto:

- “Desculpa irmãozinho, mas qual seu nome mesmo?”

- É MATHEUS P#RR*!!!

Todos riem de mim e eu rio junto. China decide mostrar sua habilidades.

- “Eu já trabalhei no circo, olha só, vou dar um mortal pra trás.” Marcos porém é responsável:

- “Deixa de ser besta, você já tá tonto, vai cair.” Haxixe se aproxima e passa a mão na cintura de Marcos, “deixa ele seu bobo”, ele se afasta, “já falei que não gosto de brincadeira de mão, saia daqui!”, caímos na risada.

China enverga as costas até encostar a cabeça no chão, coloca as mãos ao lado da cabeça e joga as pernas, elas se erguem até quase fazerem um ângulo de 90 graus, permanece um segundo com elas no ar e despenca de lado, todos, inclusive ele no chão, riem até quase chorar.

Os três copos que restaram vão circulando, alguns ao tomar deixam escorrer pela beirada da boca, já não tenho nojo. Minha visão começa a ficar embaçada, melhor ir embora. - Tchau gente, tenho que ir, até mais.

Todos vêm ao meu encontro e um a um me abraçam, China e Haxixe são os que têm o cheiro mais forte, provavelmente muitos dias sem banho, quase tive ânsia, porém não os evitei. Drézão me acompanha tentando me convencer a comprar o tênis, as passar perto do senhor deitado sob as cobertas escuto um pedido, “Drézão, pega água pra mim, por favor”, o rapaz de Patrocínio Paulista se esquece do tênis e começa a me falar do indigente, “isso é que me dá dó cara, ele vai morrer aí, não tá conseguindo nem levantar mais”, já não estou com muita paciência: - Então busca logo a água pro homem! Ele vai correndo, aproveito para continuar meu caminho.

Ao virar a esquina ainda pude ouvir o China cantando rap, “Matheus é nosso irmão na humildade, eu bebo sim e tô vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo, fé em Deus que ele é justo...”

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Alcoólatras mais que costumazes 2


Continuando o último post...

China aparentava ter cerca de quarenta anos, media pouco mais de metro e meio de altura, usava boné de algum supermercado na altura dos olhos, camiseta cavada tamanho G que lhe batia no meio das coxas e um bermudão que também não era seu número e fazia as vezes de calça, já que encostava nos seus tênis que um dia haviam sido brancos e agora estavam gastos e marrons.


Chegou um homem magro e ao mesmo tempo forte, usava uma camisa branca com escritos de alguma quermesse para dentro da calça jeans desbotada e um cinto que parecia ser de couro trançado. Buscava falar com altivez e era notável seu esforço de tentar ao máximo utilizar o português de maneira correta.


- Bom dia companheiros, acabei de chegar do trabalho. Olhou para mim e estranhou, perguntou meu nome e se eu morava no bairro, novamente não consegui responder toda a questão.

- Matheus, eu moro...

- Ele pagou uma pinga pra nóis, o Haxixe foi lá buscar e vai trazer o troco pra ele!


O recém chegado sorriu, seus dentes, assim como seus olhos, eram amarelados e sem brilho. Enquanto isso China pegou dois copos plásticos vazios e começou a jogar para cima numa tentativa de malabarismos, amassou os dois e causou a ira de um senhor negro que estava em silêncio até então, “pára com isso China, depois não tem copo pra gente beber, tomar no bico não dá, palhaçada!” China não deu bola, continuou tentando.


- “Gostou dos meninos aqui?” Disse o homem que acabara de chegar. “Eles estão aqui todos os dias, são pessoas de bem, todos humildes, gosto dos rapazes, não bebo, mas gosto da companhia, todos muitos humildes. Fico aqui com eles e controlo pra não ter algazarra, sempre digo que só existem três coisas importantes: lealdade, honestidade e humildade. Trabalho com motosserra e à noite de segurança (olhava carros na rua). Eu canto sabia? Toco vários instrumentos na igreja e canto...” Haxixe voltou com meu troco e já entrou na conversa:


- “É verdade, o Tião Carreiro aí canta. Canta aquela da cruz na parede pra ele ver!” Ao ouvir isso a sombra de um sorriso orgulhoso passou em seu rosto antes de responder:

- “Sim, eles me chamam de Tião Carreiro porque eu canto que nem ele: Uma mente pura e positiva para entender a luz da verdade; No quarto onde eu me encontro mandei colocar na parede uma CRUZ; E nela de braços abertos existe um homem chamado JEEEESSSUUUUSSS!!!!!” Não há dúvidas de que o homem era afinado, além disso cantava alto, pude escutar o resmungo de algum transeunte irritado. Drézão, um rapaz que aparentava 30 anos e cujos olhos semicerrados e sorriso permanente denunciavam seu já avançado estado de embriaguez deu um grito:


- “ÔÔÔ HAXIXE, devolve o troco do menino, ninguém aqui é ladrão, somos humildes, mas a gente não pega nada que é dos outros não!”


Peguei o dinheiro. Tião Carreiro que tinha se intitulado aquele que coloca ordem no pedaço não deixou passar a oportunidade de se colocar:


- “Quanto tem aí?”

- Três e cinqüenta. Respondi.

- “Tá certinho então, aqui somos todos humildes, quem olha por nós é nosso senhor”.


Noto que de alguma maneira que não consegui perceber a garrafa pet que estava na metade quando eu cheguei já estava vazia. Drézão pega a pinga nova e distribui nos quatro únicos copos, deixando a mostra uma grande tatuagem tribal no braço direito, me oferece a aguardente, agradeço mas não aceito, ele se aproxima e começa a conversar comigo.


- “Meu amigo, eu não sou daqui não, sou de Patrocínio Paulista, tenho mulher e filho lá, não sou igual eles aqui, não sou da rua, fico uns dias mas depois preciso ir embora, minha mulher deve estar doida atrás de mim! Tenho um tênis novinho aqui, HAXIXE! Pega o tênis aí no sol pra mim, então, qual seu nome mesmo?” Matheus, respondo. “Então Matheus, te vendo ele por dois e cinqüenta, é só o preço da passagem preu ir embora, me dá essa força aí irmão!”


Olho o tênis, realmente é bonito, branco e vermelho, sem marca.


- Desculpa, mas não é meu número.

- “Firmeza irmão, não tem problema, quer um gole?”


Aceito dessa vez, desce queimando, tudo bem que por um e cinqüenta eu não esperava a melhor pinga do mundo, mas aquilo estava mais para álcool etílico do que pra pinga, talvez fosse mesmo. Todos que passam na pracinha ficam me olhando como se eu fosse um estrangeiro. Alguns comentam entre si e apontam, tomo outro trago antes de devolver o copo.


O senhor negro e calado se levanta e fica me olhando, como não dei sinais de ir embora ele me chamou. – “Vem cá, deixa eu conversar com você um pouquinho”. Ele tinha os cabelos curtos e cheios de fios brancos, usava um sobretudo de lã preto e comprido que provavelmente era feminino. Sentamos em outro banco de costas para seus companheiros, me ofereceu e aceitei mais um trago.


Continua...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Alcoólatras mais que costumazes

Fico muito feliz de ver que várias pessoas sentiram minha falta por aqui, felizmente acabei meu primeiro tcc e o próximo é só para o ano que vem. Ainda não estou no pique de escrever novos posts, mas por enquanto vou postar uma reportagem que fiz para o meu tcc. Procurei escrever no estilo gonzo e ser literário, fugindo do jornalismo chato e quadrado. O título da reportagem é o mesmo deste post e vou publicar em três ou quatro posts pra leitura não ficar muito cansativa, espero que gostem!


Era um dia nublado e úmido, durante a noite a chuva havia encharcado as ruas e telhados e calçadas, de forma que era necessário andar no canto da calçada para não tomar um banho de água suja dos carros que passavam atrasados para chegar à algum lugar chato onde fariam coisas que não queriam por um valor injusto.


Cheguei à pracinha para fazer a reportagem por volta das nove e meia da manhã. Sob uma das árvores havia um amontoado de folhas e galhos secos que poderiam alimentar uma bela fogueira em um dia de São João; ao lado havia um amontoado de cobertores de lã, daqueles cinzas que as avós costumam ter e só utilizam quando têm muita visita em casa e os edredons bonitinhos não são suficientes.


De repente, o amontoado de cobertores se mexe; paro e observo. Com dificuldade um senhor de cabelo e barba brancos e mal feitos joga de lado uma parte dos cobertores e libera sua cabeça para o mundo. Passara a noite ali e se escondera da chuva sob os cobertores, por causa do aguaçal o peso era grande, mais se esgueirando para fora do que tentando se livrar de suas pesadas mantas ele escapa. Com muito esforço Maguin (como vim a saber) se levantou, era perceptível que tinha sérios problemas nas articulações, movimentava-se quase como um robô enferrujado. Fazia de tudo para não ter que dobrar os joelhos, andava girando o corpo, primeiro da direita para a esquerda, depois da direita para a esquerda. Fez isso até chegar a um grupo de três homens sentados em um banco da praça. Um dos homens lhe ofereceu um copo descartável com pinga. Sem trocarem nenhuma palavra Maguin, de um só gole, bebeu o que restava no copo, devolveu o copo e ainda sem falar nada voltou andando com a mesma dificuldade para sua cama, onde se cobriu, se molhou e dormiu.


Mais um homem se juntou ao grupo. Eu não sabia muito bem como me aproximar, fui andando vagarosamente como se estivesse apenas passando. A sorte me deu empurrãozinho.


- “Ei rapaz, dá uma intera aí pra gente comprar uma pinga, essa aqui já está acabando! Na verdade a garrafa de refrigerante dois litros estava na metade.


- É, pode ser cinqüenta centavos, a gente bebe mas a gente fala, a gente fica aqui de boa e não atrapalha ninguém.”


Aquela era minha chance, peguei a carteira, dei cinco reais pra um deles e pedi pra voltar com o troco, a felicidade deles ao ver que tinham ganhado mais um trago era grande, sentei-me.


- “Ô China, faz um rap aí para o rapaz, você gosta de rap? Qual seu nome?”


- Meu nome é Matheus. – não consegui responder à pergunta sobre meus gostos musicais. China me interrompeu pra cantar seu rap.


- “Um muleque gente boa, está com nóis irmão, chegou na humildade e ajudou, o que importa é Jesus Cristo e humildade, que os bens material daqui nóis num leva, paz irmão, humildade e Deus no coração. Eu bebo sim, e tô vivendo, tem gente que não bebe e tá morrendo, é isso aí irmão, na humildade!”


Continua depois de amanhã...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma linda noite de sexta-feira

Era sexta feira mas estava de bom humor, finalmente dois dias de descanso. Tinha chegado cansado do trabalho, arrumara tudo o que precisava e sentou-se no sofá da sala para ver o jornal, os filhos tinham saído e provavelmente só voltariam no dia seguinte. Quase no fim do jornal a mulher sentou-se a seu lado.


Apesar dos quarenta e dois anos era ainda muito bonita, praticamente sem rugas, os cabelos loiros desciam até a altura do ombro e ocultavam parte do colo cheio de sardas, a cintura não era mais aquela de quando se casaram vinte anos atrás, porém ainda tinha um belo desenho devido às caminhadas diárias, o que também acontecia com as pernas, junto a isso havia ainda a camisola semi transparente que a dava um ar intimista e asas à imaginação dele, não resistiu.

Vagarosamente passou as mãos pelas costas da esposa e buscou seus olhos.


- Amor...

- Fala Tião!

- As crianças saíram meu bem...

- Que crianças Tião? Aqueles marmanjos já estão é na hora de sair de casa! Respondeu ela sem tirar os olhos da TV.

- Ai amor, é tão bom quando ficamos sozinhos...

Só então ela percebeu as más (ou boas, aí depende da sua cabeça) intenções do marido.

- Pelo amor de Deus Tião, isso é hora?

- E desde quando a gente precisa de hora pra isso Tetéinha? Disse ele com um sorriso maroto nos lábios.

Finalmente ela desgruda os olhos da televisão e olha para o marido.

- Você já teve o seu desse mês homem, agora dá licença que eu vou ver a minha novela!

- Mas Tetéinha...

- Não tem nada de Tetéinha, vai logo pro banho que você já está fedendo, e não quero ouvir mais nenhuma palavra que começou, olha só, você me fez perder o começo da novela!

Revoltado, mas sem ter o que fazer, Tião foi para o banho, colocou a água no gelado e ficou a ensaboar-se. Quando já estava acabando o banho escutou um barulho violentíssimo na frente da casa, enrolou a primeira toalha que viu na cintura e correu pra ver o que estava acontecendo. Ao passar pela sala viu a mulher pasma de pé olhando pela janela, saiu pela porta e entendeu.

Parou no meio da garagem e prestou atenção aos detalhes daquele acontecimento tão insólito. De alguma maneira uma caminhonete se arrebentou entre o muro e o portão de sua casa, o motorista parecia desacordado. De repente um barulho: Iiinnnhhheeeeccc... Foi o tempo de Tião pular para trás, seu portão de dois mil reais novinho em folha se arrebentou no chão. Provavelmente por causa do barulho o rapaz do carro acordou e abriu a porta amassada do veículo, aparentava cerca de 20 anos de idade, saiu meio capengando de um lado para o outro, quando finalmente conseguiu se firmar olhou bem para o meio da garagem e viu Tião parado.

- Ôôô rapaiiz, acho que eu encostei no seu portão um tiquinho né? "Percupa" não que eu coloco no lugar amanhã! Kkkkkkk!

- Levantar nada, você vai ter é que me comprar outro seu malandro!

- Não é por nada "tio", mas o senhor aceita cartão? Kkkkkkk.

Parece que essa piada era bem mais engraçada para o motorista que para Tião, o dono da casa mal acreditou no que ouviu, para piorar a situação o moço sentou no chão e danou a gargalhar.


- Você acha engraçado quebrar a casa dos outros assim seu "muleque"? Você está louco? Aposto que deve mexer com aquela erva do capeta que falaram no culto ontem!

Ao ouvir isso o "muleque" ficou quieto, olhou diretamente nos olhos de Tião e disse com um ar muito sério:

- Antes de me ofender acho melhor o senhor pensar bem no que fala viu? Eu não mexo com droga nenhuma, só fumo e cheiro! Kkkkkkkkkkk.

Não se sabe muito bem se foi a piada ou os acontecimentos anteriores que motivaram Tião, mas o caso é que ele partiu com tudo pra cima do rapaz que ainda estava sentado no chão, depois de uns três socos no ar e uns dois no alvo Tião escutou a sirene e os gritos, ninguém sabe quem os chamou ou de onde apareceram, ele só percebeu quando o seguraram e jogaram pra dentro do camburão.

Ao chegar na delegacia abriram as portas da viatura.

- Pode descer Pato Donald!

Tião não entendeu nada e nem achou que era com ele até levar o puxão no braço e ouvir o grito:

- DESCE LOGO PATO DONALD!

Só então se deu conta do que acontecia, além de estar só de toalha na delegacia, deu o azar de estar com uma toalha antiga de um dos filhos que tinha uma cara enorme do Pato Donald estampada. Ligou para o primo advogado salvá-lo.

Chegou em casa às três da manhã morto de cansaço, a mulher e os vizinhos tinham colocado vários papelões para fazerem as vezes de portão até o dia seguinte. A esposa o esperava deitada com a luz acesa.

- Deu tudo certo amor?

- Uai Ana, tirando o fato de serem três da manhã e eu não ter dormido nada ainda e de termos um portão pra consertar amanhã, até que está tudo bem, além da minha gastrite nervosa claro! Foi respondendo ele enquanto deitava ao lado da esposa.

- Sabe o que é Tião? Disse ela enquanto passava as mãos na careca do marido.

- O quê?

- É que você estava tão másculo brigando com aquele menino mais cedo... Aquela toalhinha e seu ar de irritado te deixaram tão sexy amor...

- Então, sabe o que é Ana?

- O que Fofucho? Rebateu ela dando um pulinho na cama para o lado dele se insinuando e sorrindo.

- Nada amor, nada. Boa noite. Virou para o lado e apagou a luz.


PS: Pessoal, desculpe estar meio sumido do mundo blogueiro, mas é que as faculdades me apertaram, mas sempre que der eu apareço!

domingo, 19 de setembro de 2010

...

Me perco entre o passado e futuro e o hoje nunca é presente.

Dylan

The times they are a-changing.

sábado, 18 de setembro de 2010

Um "negócio" dos grandes

Confesso que era muito grande.

Me assustava com aquilo. Meus amigos em algumas ocasiões olhavam e ficavam constrangidos, viravam para o lado como que para esconder-se.

É claro que eu não podia sair por aí mostrando pra todo mundo, mas as poucas mulheres que viam também se assustavam:

- Meu Deus, como pode?!... desse tamanho???

Outras ficavam amedrontadas:

- Isso deve machucar, não encosta em mim...

Era uma situação difícil a que eu vivia, apesar de sempre haver quem achasse uma grande vantagem e dissesse até que eu devia ficar me exibindo, eu realmente não conseguia e sempre tinha dificuldades.

Até mesmo andar rua era desconfortável, sempre tinha alguém que percebia, mesmo eu fazendo de tudo pra esconder, mas como é que eu podia esconder um negócio daquele tamanho?

Para piorar minha situação parece que a cada dia "aquilo" se tornava maior, não sei como era possível, mas ficava! Para evitar me constranger - eu já não tinha como esconder - comecei a ficar em casa, nem à aula ia mais.

Era uma bela manhã de domingo. Chovia, meu pai sentou-se ao meu lado na cama e pegou minha mão com força.

- Dá esse mão aqui agora que vou cortar sua unha, absurdo uma unha desse tamanho por pura preguiça, e amanhã você vai parar de frescura e vai pra aula de novo senão te pego de reio menino!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Punhos inúteis

Então sorriu, levantou a cabeça e encarou-o.

O outro soco atingiu-lhe diretamente as costelas, recuperou o fôlego e sorriu novamente.

Desta vez o chute atingiu-lhe o rosto, caiu de costas, sangrava.

Gargalhou com força e vontade, e mais notável ainda, com sinceridade.

O agressor foi embora derrotado e humilhado, perdera a batalha sem levar nem um golpe, pelo menos nenhum físico.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mudança

Às oito da manhã:

- Cadê ela? Precisamos arrumar essas coisas que estão no caminho senão não poderemos fazer mais nada!
- Não sei, ela disse que tinha que fazer alguma coisa por aí, vamos fazer do nosso jeito, não tem como errar, camas e guarda-roupas nos quartos, televisão na sala e por aí vai, se esperarmos que ela volte pra dizer onde colocar as coisas a gente só acaba amanhã!

Às seis da tarde:

- Que bom que a senhora chegou dona, demorou mas acabamos de acabar o serviço, olha que beleza!
- Meu Deus do céu! Vocês colocaram tudo no lugar errado!
- Como assim? Será que a cama ia na cozinha, a televisão no banheiro e os guarda-roupas no quintal?
- Não, não são esses móveis! O problema é que os livros iam metade pro meu quarto e a outra metade pro quarto dos fundos; as almofadas não ficam todas juntas, as azuis precisam ficar na sala de visitas, as verdes na de televisão e as outras vou jogar no lixo; o computador fica no quartinho dos fundos, mas o modem e o roteador ficam na cozinha; o quadro de girassóis tem que ficar na sala de jantar e o painel de fotos na sala de visitas, vocês colocaram ao contrário; a galinha de crochê não é enfeite do rack, ela segura a porta da cozinha...

No dia seguinte, mudando tudo de lugar:

- É Zé, bem que a gente podia ter esperado ela chegar né?
- Pois é, não ia acabar ontem, mas pelo menos a gente fazia "menas" força...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

S entre quatro paredes

Após não conseguir se conter e soltar o sulfuroso no elevador, fez o que qualquer pessoa educada faria, apontou para o filho: "Que feio ein Pedrinho?"

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Posso ajudar?

Não resistiu à carinha de gatinho de Shrek da criança, apesar do menino estar na mesa ao lado chamou-lhe:
- Ei guri, o que você está vendendo? Posso ajudar?

Claro que podia. Deu-lhe logo cinco reais pelo Halls.

Quando saiu do restaurante o viu fumando crack na praça ao lado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Avião da banda Calypso cai no rio Amazonas

Na manhã de ontem o avião particular da banda Calypso trazia seus integrantes de um show em Manaus (AM) até Belém (PA), porém devido a uma pane nos motores a aeronave caiu em um dos braços do rio Amazonas.

Milagrosamente todos os tripulantes sobreviveram. A vocalista Joelma, no entanto, ficará com seqüelas, sendo que ficou muda e nunca mais poderá cantar. Já o guitarrista Chimbinha teve seu cabelo queimado pela explosão, o que acabou com seu topete, com exceção deste incidente nenhum arranhão, o que ele considerou um milagre, em declaração à imprensa ele disse que em agradecimento dedicará o resto de sua vida a criar músicas instrumentais para o público gospel, porém ele ainda cogita a possibilidade de aceitar os convites de Joe Satriani e Slash para lhes dar aulas de guitarra.

Com o abandono dos dois principais integrantes a banda Calypso encerrou suas atividades, porém houveram várias manifestações no país. Cerca de 50 fans foram às ruas de Belém do Pará para pedir a volta da banda, já no restante do Brasil milhares se reuniram nas ruas para comemorar, alguns estados como São Paulo e Rio Grande do Sul declararam feriado. O presidente Lula falou em rede nacional sobre o acontecido:

- Companheiros e companheiras, esta é a melhor notícia que já ouvi desde que me contaram que Jesus morreu para nos salvar de nossos pecados.

domingo, 22 de agosto de 2010

Beba mi amigo, beba...

Era uma festa numa república, o negócio começou à tarde e moeu direto! Quando deu umas nove da noite a cerveja acabou, como eu ainda não estava muito bêbado o pessoal me deu dinheiro e a chave de uma Ford Courrier pra buscar cerveja, junto comigo ia um cara que eu tinha conhecido na festa pra passar em um lugar e comprar umas "coisas" que ele precisava desesperadamente (mas essa história não é sobre isso).

Quando eu estava entrando no carro o Higor (nome fictício) apareceu todo animadinho:

- Eu vou, eu vou, eu quero ir.

Expliquei pra ele que o carro só tinha dois lugares e já ia um outro cara, além disso todo mundo tinha bebido, se a polícia encontrasse três pessoas na frente aí é que a coisa ia ficar feia mesmo! Mas ele insistiu:

- Mas eu quero ir, eu preciso ir, eu vou, eu vou, eu vou!

Eu também já estava alegrinho e zuei:

- Higor, não tem como! Só se você for na carroceria!

Mal sabia eu o que tinha acabado de fazer!

- Beleza então! Eu vou!

Eu estava zuando, mas o Higor quando fica bêbado é insistente pra caramba, decidi nem discutir. Abri a carroceria pra colocar a caixa de cerveja e ele já foi entrando, sendo que teve que ficar deitado pra caber porque a capota era daquelas baixas.

Saí no carro e empolguei! esqueci de falar antes, mas o carro era 1.8 e corria muito, até tentei fazer ele andar devagar, mas ele não me obedecia!...
Nas curvas a gente sempre ouvia o som de alguma coisa indo de lado pro outro e batendo no lado do carro, até me preocupei com o Higor, mas o cara do meu lado me tranqüilizou:

- Deve ser a caixa de cerveja, pisa nesse acelerador cara!

Quando chegamos no posto pra comprar a cerveja abri a carroceria e puxei o Higor pra fora, ele parou em pé por um segundo e tombou pro outro lado, se a gente não o segurasse ele tinha esborrachado no chão!

Fiquei segurando ele de pé e o cara foi pegar a caixa de cerveja, só escutei o grito:
- Merda!

Quando olhei dentro da carroceria ela estava inteira suja de vômito, e o mais engraçado é que o Higor estava limpinho! Voltamos com o ele no banco da frente e devolvemos o carro pro dono sem falar nada, no outro dia ele deve ter tido uma surpresa...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Faz tanta falta

Era um grande amigo meu, porém já fazia muito tempo que não nos víamos, por isso não entendi quando ele me ligou chorando, mas amigos são amigos, fiz o que pude.

O encontrei no bar depois de uma meia hora, estava no balcão bebendo pinga, pedia uma dose atrás da outra e chorava copiosamente.

- E aí Marcão, calma cara, não sei o que aconteceu mas não é motivo pra desespero. O que aconteceu?... Sua mãe... foi?
- Que isso rapaz, tá ficando louco? O problema é que a Ermelinda me abandonou!

E dá-lhe lágrimas! O Marcão é ÃO porque ele é realmente grande, um negão três metros por dois, ver aquele monstro chorando era assustador, cada fungada parecia que ia me levar junto! Eu nem sabia que o sujeito tinha se casado, acho que devia ter só juntado os trapos com uma qualquer e pronto (bem que ele podia ter arranjado alguém com um nomezinho melhor né?).

- Calma Marcão, mulheres tem um monte por aí, com certeza você vai encontrar alguém melhor!
- IMPOSSÍVEL! Ela era simplesmente a melhor pessoa que eu já encontrei, era super cuidadosa, fazia tudo com zelo e carinho! Como é que eu vou fazer agora cara? Quem vai arrumar meu apartamento?Quem vai fazer comidinha pra mim, lavar minhas cuecas e passar minha roupa tão bem quanto ela?
- Isso é o mais fácil Marcão, o difícil é encontrar alguém que te ame como eu tenho certeza que ela te amou!
- Tu ficou louco Matheus? A Ermelinda era minha empregada! Arrumar mulher é fácil, o difícil é encontrar uma boa empregada! Você acredita que ela nunca deixou juntar pó atrás do guarda-roupas?

Fui embora sem nem me dar o trabalho de responde-lo.

sábado, 14 de agosto de 2010

A realidade já não me basta

Título auto-explicativo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

Beakman

Por algum motivo inexplicável o relógio não despertou, corri sem tomar nem café ou banho, provavelmente meu cabelo deveria estar como o do Beakman, cheguei uma hora atrasado na aula e a professora ficou me olhando feio por interromper a explicação. E pior que isso, não havia cadeira livre, tive que ir na sala ao lado buscar, ao finalmente me sentar ainda levei um cutucão da professora:

- Posso continuar a aula agora que o "atrasildinho" sossegou?

"Acontece", pensei comigo enquanto fazia sinal com a cabeça que sim. Ainda por cima me avisaram que ela já tinha feito chamada. Ao final da aula, depois de praticamente três horas plantado olhando para a lousa sem entender praticamente nada do que a mulher falava resolvi ir pedir presença.

- Você chega duas horas atrasado e ainda tem a pachorra de vir me pedir pra tirar sua falta? Você não acha que está abusando não? Vai ficar com falta! E agradece por eu não ter te expulsado da sala por ficar de burburinho com os outros e atrapalhando os alunos que queriam aprender alguma coisa...

Nem respondi, achei melhor não ofender a mulher que ia decidir minha nota no final do semestre. "Acontece", esse tipo de coisa sempre "acontece".

Animado com minha manhã fantástica fui para o ponto de ônibus pra ver se eu chegava em casa logo. Quando eu estava chegando o ônibus passou, ainda dei um sinal pra ver se ele parava fora do ponto mas o motorista só me deixou um sorriso sarcástico e a certeza de mais trinta minutos prostrado esperando outro ônibus. Na correria pra chegar na aula esqueci de pegar um livro (sempre carrego um pra esse tipo de emergência), o que me forçou a ficar olhando o horizonte por 1800 segundos intermináveis. "Acontece", pensei cá eu com meus botões.

Cheguei em casa quase morto de fome. Coloquei a comida pra esquentar quando tocou a campainha. Era um sujeito com roupas imundas, uma garrafa pet de dois litros na mão e cara de "acabei-de-acordar-pelo-sexto-dia-consecutivo-de-ressaca".

- Bom dia!
- Só se for pra você! Eu não costumo ser assim tão ríspido, mas o dia não estava me ajudando a ser muito diferente.
- Ãhn?
- Nada não, pode falar!
- É que eu moro no aeroporto e trabalho ali perto do centro, eu estava indo para o trabalho e acabou minha gasolina, será que o senhor poderia me dar uma ajudinha pra comprar dois litros de combustível e poder acabar de chegar? Eu recebo amanhã e passo aqui pra lhe devolver o dinheiro, pago até com juros, prometo por Nossa Senhora....
Óbvio que eu já não estava mais aguentando a falação do sujeito, e o bafo eu estava aguentando menos ainda! Enfiei a mão no bolso.
- Tá bom, tá bom, toma aqui ó, eu tenho trinta centavos.
- Só trinta centavos? Pode ficar, não dá nem pra comprar uma pinga! E saiu sem nem me falar obrigado.

"Acontece, acontece"...

Bastou colocar minha cara de tacho pra dentro de casa que senti o cheiro. Corri mas não adiantava mais, todo meu almoço estava queimado. Joguei-as dentro da pia e joguei uma aguinha pra ficar de molho. Engoli um pacote de bolacha inteiro - não sei se de fome ou de raiva - e fui tomar um banho pra ver se tirava a zica.

No meio do banho o chuveiro queimou, acabei de me enxaguar rapidamente enquanto a água me gelava os ossos. Pensei comigo que esse tipo de coisa "acontece", com todo mundo, "acontece..." ACONTECE O CARAMBA! Mal dia, mal dia, mal dia...

Tinha que fazer trabalho na biblioteca às três, deitei pra dormir um pouquinho antes.

"TTRRRRIIIIMMMMM"

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

- Alô.
Sem resposta.
- ALÔ!
-Oi, desculpa, não estou te ouvindo bem, você está na linha?
- Sim, estou!
- Então sai da frente senão o trem te atropela! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Antes que eu pudesse xingar qualquer coisa desligaram. Como é possível isso tudo comigo em um dia só? Mal dia, mal dia, mal dia...

Voltei para a cama.

"TTRRRRIIIIMMMMM"

Mas não é possível! Seria o Benedito? Lá fui eu.

- Alô.
- Boa tarde, aqui é da assistência técnica da net (aqui em casa telefone, TV a cabo e internet são da net, com certeza não era trote), estamos tendo alguns problemas técnicos em seu bairro, o senhor poderia verificar por favor se sua TV está no ar?
- Só um minutinho. Corri, liguei a TV e voltei.
- Está no ar sim!
- Então sai de baixo senão ela cai na sua cabeça! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Novamente não consegui nem abrir a boca e eles desligaram. Não consegui nem mesmo pensar em nada, tirei o telefone do gancho e fui pra cama, tinha ainda uma hora pra dormir antes de sair pra fazer o trabalho.
Dormi e dessa vez o celular despertou na hora. Me levantei, me arrumei, e assim que coloquei o telefone no gancho pra sair ele tocou, desconfiei que pudessem ser aqueles malditos de novo, mas vai que alguém morreu e precisassem me avisar? Se eu perdesse o velório da tia avó da prima da minha vizinha ou de qualquer outra pessoa por não atender o telefone eu nunca me perdoaria (eu e minha cabeça cheia de minhocas)!

- Alô.
- Quem fala?
- Aqui é o Matheus.
- Oi Matheus, aí é onde estavam passando vários trotes algum tempo atrás?
- Sim, é aqui mesmo, por que?
- Por nada, é que achei que tinha esquecido seu número, ainda bem que ainda lembro! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Nem me importei que ele já tivesse desligado, xinguei todos os nomes feios e impropérios possíveis, acho inclusive que inventei alguns (não me pergunte como nem de onde saíram, muito menos seus significados)!

- Filho de uma rapariga! Sua mãe não tem dente! Seu pai tem um caminhão cheio de galinhas e dirige sem camisa! A bacia da sua casa tem óleo de rícino! Seu pé tem cheiro de chulé cor-de-rosa e sua mãe gosta de geléia de espinafre com couve!

Saí com minha bicicleta louco da vida, agora já atrasado uns cinco minutos. Três quadras pra baixo de casa o pneu furou.

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

Voltei correndo pra casa, guardei a bicicleta e fui pegar o ônibus. Nem preciso dizer que ele passou quando eu estava chegando no ponto né?

Quarenta e quatro minutos após do combinado cheguei para fazer o trabalho. Acho que minha cara de desespero estava tão terrível que ninguém questionou minha justificativa para o atraso. Depois de duas horas de discussão ferrenha em que eu estava SEMPRE errado, acabamos e fui para o ponto pegar o ônibus pra ir para casa.

Mal cheguei no ponto e vi um ônibus descendo. Beleza, pensei eu, enfim alguma sorte neste dia de cão! Estava lotado, não caberia nem uma agulha dentro daquele ônibus, definitivamente ônibus não é como coração de mãe, passou reto sem nem perceber minha existência. Dez minutos depois chegou outro ônibus, lotadíssimo, mas parecia ter algum espaço, entrei e fiquei nos degraus da frente. Foi só então que pensei, nossa, eu desço bem no começo do bairro, não vai dar pra passar na roleta e chegar até os fundos para descer. Com minha melhor cara de piedade conversei com o motorista:

- Moço, será que posso pagar pro cobrador e descer aqui pela frente? É que meu ponto já é aquele da padaria do Seu Nestor, então acho que não vai dar pra eu chegar até a porta dos fundos a tempo.

Subitamente o motorista freia, encosta o ônibus e abre a porta. A freada foi tão brusca que voou gente pra todo lado, xingamento então nem se fala! "Isso aqui não é carga de porco não seu louco! Comprou a carteira seu Zé Mané? Cuidado que desse jeito vou machucar sua mãe aqui no cantinho...

- Pode descer agora do meu ônibus! Ninguém aqui desce pela frente, é por causa de gente folgada como você que o país está essa merda! Vaza moleque!

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

Desci do ônibus sem dar nem um pio, só o que as 395 pessoas que estavam dentro daquilo estavam berrando para o motorista já eram o suficiente pra pobre mãe do sujeito ficar sem dormir pro resto da vida.

Acabei de chegar em casa a pé, não falei nada com ninguém, fui direto pra cama pra ver se aquele dia acabava e vinha outro decente um mínimo que fosse. Quando estava finalmente pegando no sono escutei

- Um, dois três e...

A banda do vizinho começou a tocar. Além de tocar mal os pivetes tocavam músicas horríveis! Os caras tocaram Velvet Revolver, NX Zero, Restart e uma música do Fábio Júnior que eu não tenho a mínima idéia de onde eles conheciam ou tiveram idéia de tocar.

Porém o pior mesmo foi a única vez que tentaram tocar uma música legal, era pra ser "Help" dos Beatles, mas aquela "coisa" (falo coisa porque chamar aquilo de música é ofender e desclassificar até mesmo as produções menos sofisticadas da Xuxa) parecia uma mistura Mambo, tecnobrega, rock e tango. O vocal parecia um cruzamento de Calipso (não sei o nome daqueles cabelos esvoaçantes) com Nelson Ned, a percussão estava tocando um reggae que parecia ser do Jason Mraz, a guitarra tocava uma música dos Strokes (!) e o baixo, bem prefiro não comentar.

Vocês viram que eu aguentei muita coisa nesse dia, mas a única hora que realmente tive vontade de chorar foi nesse momento, o que eles fizeram com aquela música foi algo pior do que o que o goleiro Bruno "teoricamente" (não provaram nada ainda né?) fez com a namorada.

Era tanta raiva que fiquei paralisado por uns dez minutos. Quando finalmente comecei a me movimentar olhei para as horas, 20:47. Levantei, tomei um calmante e deitei, fiquei com a luz acessa olhando para o relógio, acho que meu cérebro travou por um tempo, não lembro de ter pensado nada. Quando deu 22:01 liguei para a polícia, que pelo visto não tinha muito o que fazer, pois depois de uns dez minutos já estavam dando bronca na molecada e explicando que segunda-feira (tinha que ser) não era dia de tocar som naquela altura e tals. Pelo que eles tinham feito com a música dos Beatles eu achei que eles mereciam prisão perpétua, mas só o fato deles se calarem já me deixou muito feliz, pelo menos eles não tiveram a chance de assassinar nenhuma música dos Stones.

Deitei. Porém mal tinha encostado a cabeça no travesseiro quando todos, repito: TODOS! SEM EXCEÇÃO! Todos os cachorros da vizinhança decidiram latir juntos. Levantei e abri a janela, a lua estava linda.

- Meu Deus do céu! Será que você não está vendo nada do que aconteceu comigo hoje não?

Repentinamente todos cães pararam, tomei um baita susto. Olhei desconfiado para todos os lados mas não vi nada. Fechei a janela, deitei e dormi sem ouvir mais nenhum pio.

Os vizinhos devem rir
por trás do jornal
e eu desconfio de um complô
o maior que já se armou
uma conspiração internacional...




Ps: só para confirmar a desconfiança daqueles que tem um pouco de cultura (rsrs), o título desse post é baseado no Tio do desenho do Jackie Chan.

Ps2: Aqui em casa a gente usa net mesmo, não é jabá! Rsrs

domingo, 8 de agosto de 2010

Saudade

Escolhera a solidão.

Porém naquele dia se lembrou das festas, não das grandes com milhares de desconhecidos e bebida o suficiente para todos morrerem de overdose, mas daquelas pequenas que terminavam com ele tocando seu violão e com um coro de desafinados que mal sabia as músicas, mas tinham olhos que refletiam a luz da fogueira tão intensamente quanto a vontade de viver que sentiam.

Chorou.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lambari ou girino?

Éramos em oito irmãos, duas meninas e seis meninos, na pobreza da roça todos viviam descalços, mas felizes, livres para fazer o que queríamos como queríamos na hora que quiséssemos.

Eu sempre andava grudado com um dos meus irmãos mais velhos, o Zeca, que devia ter uns nove anos na época dessa história, e eu tinha uns sete. Perto de casa passava um pequeno riacho que desaguava em um rio enorme que a gente chamava de rio grande e depois de mais velhos descobrimos que o nome dele realmente era esse.

Acontece que um dia decidi que queria aprender a nadar como meu pai fazia, pedi ajuda ao meu irmão e ele me explicou:

- Eu falei com o tio Zé e ele falou que pra aprender a nadar tem que engolir um peixe vivo! Pode ser daqueles pequenininhos que nadam lá no brejo!

Não tínhamos muito o que fazer mesmo, corremos para o brejo com uma peneira em mãos e lá estavam eles, aos montes, nadando como eu queria nadar. Na primeira peneirada pegamos um monte, haviam de várias cores, eu peguei um meio cinza e dourado, meu irmão pegou um pretinho e mandamos guela abaixo, foi meio estranho mas a gente queria aprender a nadar né? Enquanto esperávamos alguns minutos descemos até a foz do rio grande.

Depois de uma boa insistência do meu irmão fechei os olhos e pulei na água com tudo, como estava raso fiquei de pé, meu irmão então começou a rir de mim e disse que a história do tio era mentira e que eu continuava sem saber nadar. Fiquei bravo, corri mais para o fundo do rio e submergi, abri os olhos e consegui ver tudo, o fundo do rio era lindo, haviam pedras de todas cores e tamanhos, comecei a nadar - sim, eu estava nadando - para o meio do rio, foi quando comecei a ver os peixes, haviam bagres, dourados, tucunarés e milhares de peixes que eu nunca havia sequer visto, era tudo lindo e maravilhoso, num dado momento percebi que eu não precisava respirar, não tenho idéia do que estava acontecendo, mas encantado com tudo aquilo continuei a nadar junto à corrente do rio.

Quando me dei conta já estava escuro, olhei pra cima e através da leve ondulação das águas pude ver a lua cheia, minha mãe devia estar louca me procurando, como pude perder de tal maneira a noção do tempo? Tirei a cabeça pra fora da água e o clarão do luar, para meu desespero, me mostrou que eu estava em lugar totalmente desconhecido. Nadei como louco de volta, minha mãe ia me bater muito! Apesar dos meus esforços a subida foi lenta, entendi o sentido de lutar contra a corrente, quando avistei o pequeno canal onde o brejinho desaguava no rio o sol já ia a pino.

Apesar da fraqueza devido ao imenso esforço, corri como louco até chegar em casa, qual foi o meu susto quando cheguei já esperando os gritos e ninguém me notou. Todos estavam amontoados no quintal olhando o Zeca, meu irmão pulava mais alto que meu pai e esticava a língua, pegava insetos e os comia. Aproveitei pra não levar bronca, passei de fininho por trás de todo mundo e fui dormir no meu quarto...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Por si move?

Sinto que o bonde de meu tempo passou e ao invés de correr atrás dele ou tentar alcançá-lo fico a observar os bondes dos tempos que não são meus, as vezes entro em algum, não são de todo ruins, o problema é que não há identificação, é como se mudar pra uma aldeia indígena, você pode achar tudo lindo, mas nunca será o seu lugar.

Eu deveria ter tido pelo menos mais umas duas ou mais namoradas, pelo menos mais uns dois empregos, mais uns seis ou sete arrependimentos, mais umas cinco decepções amorosas e no mínimo mais uma tonelada de histórias.

Vinte e três anos nas costas e não fiz nada do que deveria. Não plantei uma árvore, não tive um filho e muito menos escrevi um livro, ou seja, se eu batesse as botas nesse exato instante provavelmente eu estaria totalmente morto assim que meus pais finalmente se fossem, já que nem minha irmã me ama o suficiente para passar minha memória e história para meus sobrinhos, depois de uns 30 anos de minha morte estarei totalmente esquecido, exceto pela minha certidão de óbito em algum arquivo de cartório imundo e empoeirado.

Sei, sei exatamente o que eu devia fazer. Acordar amanhã e correr atrás dos meus planos, dos meus sonhos, buscar a felicidade e a eternidade que eu tanto sempre quis. O problema é a física. A inércia e a gravidade me prendem e me impedem de sair do lugar, e não adianta me falar que isso segura a todos e eles conseguem superar, porque a lei da relatividade mostra que para mim tudo é diferente.

Vontade, é a chave. O que me move? Aliás, o que te move?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Como domingo

Há dias em que o azul do céu é tão maravilhoso que pouco se distingue do azul daquele mar de férias da infância. Dias em que o sol brilha tão intensamente que nos cega apenas de olhar para as brancas paredes de casa. O vento sopra delicadamente apenas para refrescar o calor e balançar o cabelo das belas garotas que saíram para tomar sorvete. Há dias em que os carros andam devagar apenas para aproveitar o gostinho de alegria da paisagem que se descortina pela estrada, dias em que os latidos dos cachorros soam como música.

Pois bem, não era um desses dias.

Era um dia triste. O céu estava azul e o sol brilhava como que para lhe dizer que toda alegria que existia não lhe pertencia. O vento balançava o cabelo das garotas apenas para lhe esnobar e mostrar que jamais as teria. Os carros queriam lhe atropelar e todos os cães queriam lhe rasgar a carne e comer seus intestinos.

Suicidou-se em pleno dia de seu aniversário.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A felicidade é doce

Os pés sujos e descalços sobre a varanda de terra batida da frente da casa mostravam a situação financeira da família.

Todo mundo tem um, dois, três ou mais primos pobres na família, muitos fazem questão de visitar e manter contato apenas com aqueles que possuem um nível sócio-econômico próximo ao seu. Era nisso que ele diferenciava de quase todas pessoas e do restante de seus consangüíneos.

Lá estava ele, diante daquela criança de pouco mais de quatro anos, as pernas sujas tinham vários roxos que pareciam ser de brincar na rua e fazer "artes", a pobreza até que tem seus prós.

Pediu um abraço, o guri ficou receoso de abraçar o primo, apesar de conhece-lo, ele sabia que a mãe ficaria brava se sujasse a roupa limpa do doutor (que se chamava Marcos). Mas a insistência não permitiu que o ele titubeasse mais, correu e o abraçou. Os sorrisos tinham motivos distintos, mas ambos muito sinceros, um sorria porque há muito não recebia um carinho e o outro porque há muito não via alguém que precisasse tanto de um.

Sentou-se ali mesmo, no chão, e conversou e conversou e conversou com a criança. Quando chamam esses bacuris de carentes não é só porque às vezes eles não tem o que comer, mas porque carinho, atenção e amor às vezes são o que mais lhes fazem falta.

Onde eu estava mesmo?

Lembrei (mentira, li aí em cima mesmo)! Sentado no chão de terra com o menino, pôde suprir um pouco do que ele precisava, e como só esse tipo de criança sabe fazer quando alguém lhe dá ouvidos, o projetinho de gente começou a falar tudo o que sabia e queria e podia o mais rápido que conseguiu. Quando já tinha falado quase tudo e o doutor (que na verdade não era doutor coisa nenhuma, apenas formado em um curso superior qualquer, mas para o menino aquilo era ser doutor) já começava a pensar de onde saía tanto fôlego o rapazinho falou algo que o chocou.

- ... e aí quando eu crescer eu vou trabalhar muito muito muito pra ganhar cinco reais e comprar aquelas barras de chocolate do mercado pra mim e para os meus irmãos...

Marcos não conseguiu escutar mais nada. Entrou em choque. Provavelmente o menino pediu para o pai o chocolate e eles lhe disseram que era muito caro e que só com muito trabalho um dia ele poderia comprar algo daquele tipo. Embaraçado com a situação fez o que qualquer pessoa decente faria, se levantou e se despediu do garoto com um forte abraço, entrou no seu carro e sumiu, nem se deu ao trabalho de chegar até a casa para cumprimentar os pais do garoto.

No outro dia pela manhã voltou com uma caixa enorme (enorme mesmo, era uma caixa de microondas) cheia de chocolates dos mais diversos tipos, as lágrimas do garoto ao se misturarem com as suas na hora do abraço foram a emoção mais verdadeira que teve em muito tempo.

Os chocolates lhe custaram o salário do mês, mas a felicidade que aquele momento proporcionou marcou para sempre sua memória.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Presente na ausência

Ela está morta. Não tenho como negar, haviam uma certidão de óbito, um corpo inerte, uma lápide e lágrimas.

Impossível negar.

Mas ao mesmo tempo ela está aqui, a vejo nos mesmos lugares onde sempre a via, e quando a comida está salgada ainda posso ouvi-la reclamando dos problemas de pressão que aquilo lhe acarretaria.

Quando conheço alguém interessante não posso evitar, a primeira voz que vem na minha mente ressoa com força: "Arruma uma namoradinha mais bonitinha, essa aí é muito feia pra você". Engraçado como ninguém era boa o suficiente para mim.

E nos sonhos, deu para freqüentá-los agora. Basta que minhas pálpebras se fechem e eis aquele sorrisinho, às vezes tampando a boca com vergonha da própria felicidade estampada nos dentes alvos.

Sabe de uma coisa, talvez esse negócio de morte não seja tão definitivo assim.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Bom tocador

Esta é uma postagem programada, ontem à uma da madrugada uma ligação mudou meus planos do fim de semana e a essa altura do campeonato devo estar bêbado em alguma beira do Rio Grande pensando que cheguei ao paraíso antes mesmo de bater as botas. Mas como já tinha pensado no post de sexta achei melhor gastar uma meia horinha da minha madrugada pré viagem para deixar algo para quem tem coragem de visitar esse blog esquisito e sem graça de vez em quando.

João (sim, sei que sou péssimo com nomes de personagens, mas o que há de se fazer se o João sempre quer dar as caras?) sempre sonhou em tocar violão. Desde criança botou essa idéia na cabeça, nunca foi megalomaníaco de querer fazer sucesso com isso, mas tinha vontade de botar a mão no instrumento e tirar algo que as pessoas gostassem.

MINTO! desculpem-me, é que João é meio fanho e às vezes me confundo com o que ele fala!

A verdade é que João sempre sonhou tocar "O samba da minha terra" no violão, nem ele sabia bem o motivo disso, mas o caso é que João entrou na aula de violão única e exclusivamente para aprender esse música, explicou um monte de vezes para o professor que só queria aprender aquela música mas o danado lhe dizia que era impossível aprender só uma música, ainda mais uma tão difícil quanto aquela, daí João entrou na aula e penou para ir aprendendo tudo até ter capacidade para tocar João Gilberto.

Sempre dizem às crianças que elas podem ser tudo o que quiserem ser.

MENTIRA!

Repito: MENTIRA!!!

Um anão não pode ser modelo da Calvin Klein, Alguém com menos de um metro e alguma coisa de altura (oitenta ou setenta, acho) não pode ingressar na aeronáutica, um gago não pode ser radialista, o Tevez nem em sonho poderia ser modelo, o Edward (sim, do "Crepúsculo") jamais poderia ser macho! Só o Michael Jackson podia ser branco, criança, pedófilo, doido e tudo o mais que ele quisesse, porque ele era ele, mas aí já é a excessão que confirma a regra.

Mas voltando a história. João era simplesmente o pior violeiro que já tinha passado por aquela escola, ele era tão ruim, mas tão ruim, que no segundo mês de aula ele ainda tinha dúvidas sobre qual era o modo correto de colocar o violão no colo e sobre o porque de toda vez que ele tocava uma música parecia totalmente outro algo e ele não percebia. Era como se ele batesse no violão um Mozart e isso soasse como um nirvana, porém com Kurt chapado e as luzes piscando devido à morte.

O caso é que João não tinha a mínima aptidão para música. Depois de um ano sem conseguir realizar seu tão desejado sonho nosso herói decidiu simplesmente encher a cara. Chegou no buteco com o violão em mãos e pediu "aquela". Depois de umas quinze João mal sabia quem era, mas eis que chega uma turma super animada e se senta próximo a ele, depois de umas cachaças gritaram João.

- O rapaz, toca uma música aí pra gente!

João não sabia mais quem era, onde estava ou pra onde ia, porém não ousou recusar seu primeiro convite de tocar "artisticamente". Se aproximou e perguntou aos rapazes o que queriam escutar.

- Toca uma do João Gilberto aí vai!
- Que tal "O samba da minha terra" ein?

Ninguém sabe se foi a cachaça ou outra coisa, mas João sentou-se na roda, empunhou o violão como se fosse um expert, olhou na cara de todos e fez.

João virou o violão de cabeça pra baixo e começou a batucar a música como faria com um tamborim.

-"O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se dança todo mundo bole..."

Neste dia João tocou como rei - mesmo que sempre de cabeça para baixo - e satisfez seu mais antigos sonhos, hoje ele é engraxate na praça quinze e ano que vem estreará sua nova linha de produtos de beleza

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Apologia à carona




Dedão e plaquinha na mão

Cheguei hoje de viagem, nada demais, apenas visitar alguns parentes e uma festinha de exposição agropecuária.

Na verdade o que mais me marcou na viagem foi a maneira como fui e voltei. A falta de dinheiro e o espírito aventureiro me convenceram (sem muito esforço) a ir de carona, afinal de contas o que são quase 300 quilômetros nesse Brasilzão de meu Deus não é mesmo?

Acordei na sexta-feira (detalhe: de ressaca) às oito e meia, arrumei a mala e a plaquinha do jeito que pude e saí correndo, nove e dez da manhã eis que lá estava eu fritando sob o sol e balançando minha linda placa para todo veículo que passava.

Depois de dez minutos passou um ônibus que ia para meu destino, o motorista me olhou bem maroto e pude ler em seus olhos, "não quer pagar passagem né? Então vai ficar aí o resto do dia (risada maléfica)". Juro pra vocês que ele pensou isso, não, eu não leio mentes, só percebi nos olhos dele mesmo!

Com toda a força que o pensamento positivo pode ter eu lutei contra as garras do pensamento terrível daquele motorista de fórmula 1 frustrado - sim, "O segredo" influência até pessoas aparentemente normais como eu - e depois de mais dez minutos consegui minha carona.

Acho que luto MUITO bem com as forças do pensamento positivo.
Vou explicar o motivo deste maiúsculo aí em cima.
É que minha intenção era sair de Franca (SP) e ir até Piumhi (MG), porém como a distância era muito grande para conseguir uma carona direto até meu destino (aprendi essa lição da primeira vez que pedi carona em minha vida e fiquei 4 horas à beira da rodovia, mas isso é caso pra outra hora), resolvi pedir uma carona até Passos e daí até Piumhi:




Pois não é que consegui carona diretamente até Piumhi? O rapaz que me deu carona ia sabe Deus pra onde, porém era pra frente de meu destino e ele me deixou lá, a apenas cinco quadras da casa de minha tia. O tal do pensamento positivo funciona ou não funciona ein, ein?

Quem tem boca vai à Franca

Depois de muita festa, todo mundo dizendo que adorava a Pitty, o Marcelo D2 mandando os seguranças acabarem com a raça do meu primo só porque ele queria subir no palco e milhares de gurias gritando loucamente e freneticamente "Luan Santana! Lindo! Eu te amo!", entre outras coisitas mais (algumas, inclusive, impublicáveis neste blog de família), eu tinha que vir embora né?

Às sete da manhã em ponto do dia de hoje eu e minha plaquinha da sorte nos prostramos ao pé da MG 050. Depois de 15 minutos e apenas três carros passarem eu vi que o negócio ia ser feio, andei mais um pouquinho até um posto de gasolina e - na cara dura - comecei a interrogar os caminhoneiros sobre seus destinos, já no segundo cabra com quem falei arrumei carona até Passos, o sujeito inclusive passaria por Franca se as balanças do destino e da estrada permitissem, o que era improvável, mas eis que a incrível força do pensamento positivo (que começo aqui a chamar também de mão de Deus) novamente se fez presente.

Meu recém amigo caminhoneiro, após uma hora de viagem andando em média à 50 quilômetros por hora (sim, terrível, houve um momento em que pensei até em ir a pé!), decidiu parar em um posto de gasolina para tomar um cafézinho, e não é que o primeiro carro que me aparece na frente tem a placa de Franca? Como rapaz tímido, quieto e introvertido que sou, fiz o que todas pessoas que carregam óleo de peroba na mala fariam, meti a cara na janela do sujeito e perguntei se ele e a família não queriam me levar pra casa.

Com um belo empurrão daquela mão que eu disse aí em cima o homem mandou a filha (que, diga-se de passagem, estava muito bem acomodada deitada no banco traseiro com vários travesseiros e edredons) sentar no cantinho e apertar as roupas de cama. Lar doce lar, me espere que estou chegando à 120 por hora!

Agora que já contei minha história farei jus ao título do post.

Carona é bom e todo mundo gosta, ou pelo menos deveria...

Viajar de ônibus é a coisa mais chata do mundo, cada um em seu banco com seus fones de ouvido torcendo para conseguir dormir até chegar ao destino, ou então esperando ansiosamente para que a pessoa que se sente ao seu lado seja o amor de sua vida ou pelo menos uma pessoa bonitinha para trocar uns beijinhos durante a viagem, o que NUNCA, acontece.

Quando se viaja de carona tudo é frio na barriga, há o medo de não conseguir transporte, o medo de desagradar e ser obrigado a descer e a possibilidade de acontecer algo com o automóvel (afinal de contas não é um ônibus, que tecnicamente teria que ser revisado sempre), em contraponto você com certeza irá conhecer pessoas ótimas, de enorme coração e que acreditam no ser humano (colocar um estranho dentro de seu carro no meio de uma rodovia não é algo para tolos que desconfiam até da própria sombra), acontecerão conversas ótimas que com certeza não serão iguais às de teu cotidiano, além, claro, de economizar uma grana (economizei 65 reais só nessa historinha boba aí de cima).

Carona é o ato de ocupar, em uma viagem, um ou mais assentos, poltronas, bancos ou lugares que estavam vagos. Ao fazer isto ao invés de se utilizar de outro veículo o caroneiro contribui para que menos CO2 seja jogado na atmosfera e o efeito estufa aumente. É sabido que um dos grandes problemas do uso que se faz dos automóveis hoje em dia é que eles nunca são ocupados em sua totalidade, ou seja, cinco pessoas que moram próximas às vezes vão para o mesmo lugar em cinco carros diferentes por puro egoísmo e individualismo, seria tão mais simples e vantajoso combinar um esquema de caronas não é mesmo?

A carona é um ato puramente humano. É por isso que digo, dê carona, peça carona, viaje de carona, vá de carona para o trabalho, para a aula de dança, para a chacrinha, para a escola, o show do exaltasamba, Barretos, Ilha do Mel, Oktoberfest, Miami, Paris, Londres, Tókio...



PS1: Por favor não comentem sobre a música e o vídeo, foi a única canção que lembrei que trata sobre caronas, para quem não escutou até o final nem conhece a música ela diz: "Rodoviária de maluco é posto de gasolina..."! Foi essa música que me fez pensar em pedir carona no posto!

PS2: Não, não gosto de Pitty, Marcelo D2 ou Luan Santana, fiz tudo isso em nome da aventura, da farra e dos amigos!

PS3: O caminhoneiro que me deu carona até Passos se chamava Adão, pensei em fazer aquela piadinha (que aliás é de para-choque de caminhão) que "feliz foi Adão, não teve sogra nem caminhão", mas achei melhor não arriscar minha passagem de volta...

PS4: Perdão por ter escrito tanto, mas acho que tantos dias sem internet me deixaram com muita vontade de postar!

PS5: Pra que tanto PS meu Deus?

sábado, 17 de julho de 2010

Viajando...

Agora só amanhã, aliás, só depois de depois de depois de amanhã.

Aproveitar as férias pra mim é respirar ares diferentes, o blog vai ter que esperar uns poucos diazinhos!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Uma bolinha, duas garrafas, dois cabos de vassoura e só

Ontem, pela primeira vez em meus quase 23 anos de vida, joguei ball and bets ou bolibete ou bete ou jogo da casinha ou lombo ou qualquer outro nome que dêem a este jogo.

O caso é que mesmo tendo vivido no interior durante toda minha vida e sempre tendo toda liberdade de ir e vir do mundo eu nunca me misturei àqueles muleques que perdiam tardes e noites tentando acertar uma bolinha de tênis no meio da rua.

Ontem tive um dia mágico. A primeira bola que veio em minha direção "beteei" longe, tão longe que conseguimos fazer dez pontos enquanto a bola não voltava. A partir desse momento todos os meus medos de não conseguir acertar a bolinha ou de ser um mal jogador se esvaíram, me deixei levar pelo ritmo daquele jogo que para mim parecia tão infantil.

Ontem eu entendi porque em tantos lugares tantas crianças brincam de bets.

Ontem brinquei até minhas pernas me fazerem desmontar na beira da calçada.

Senti raiva dos carros que insistiam em passar.

Entendi porque todos os poetas versam sobre sua meninice.

Notei que tenho milhares de coisas a conhecer na minha vida e que as melhores delas não estão nos livros.

Ontem dormi e acordei com gosto de infância na boca.

Ontem, eu quis ser Peter Pan.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sustos infantis

Acho que eu tinha oito ou nove anos, estava todo empolgado assistindo "Pokémon" no Cartoon Network quando aconteceu.

Foi algo ao mesmo tempo surpreendente e assustador, um choque, até hoje guardo lembranças do acontecido. Praticamente um divisor de águas na minha infância, ou talvez tenha marcado o fim dela ou o início da adolescência, sei lá!

Mas voltemos à história.

Estava eu a assistir as incríveis aventuras de Ash e Pikachu quando de repente a imagem da televisão ficou tremida e o desenho saiu do ar.

Quando a televisão voltou a sua nitidez habitual eu vi algo totalmente inédito. Um homem estava atrás de uma mulher, os dois estavam totalmente nús, ele estava grudado nela e fazia um movimento frenético de vai e vem, ela estava com as mãos e joelhos sobre a cama, como uma vaquinha ou o Gump, meu cachorro.

Fiquei estático observando o que acontecia, embasbacado, queria entender aquilo! Virei a cabeça de lado e fiquei a observar quando meu pai apareceu.

- O que é isso menino? O que você está assistindo? Como você conseguiu colocar nesse canal?

E eu lá, pasmo, nem responder meu pai eu consegui.

Ele pegou o controle remoto, olhou para a grade de canais e viu que realmente estava no Cartoon, desligou a televisão, pegou o telefone e ligou para algum lugar, não sei pra onde, mas eu nunca ouvi tantos xingamentos na minha vida.

Fiquei o resto da tarde sem conseguir falar com ninguém. Nunca mais assisti Pokemón.