segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Posso ajudar?

Não resistiu à carinha de gatinho de Shrek da criança, apesar do menino estar na mesa ao lado chamou-lhe:
- Ei guri, o que você está vendendo? Posso ajudar?

Claro que podia. Deu-lhe logo cinco reais pelo Halls.

Quando saiu do restaurante o viu fumando crack na praça ao lado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Avião da banda Calypso cai no rio Amazonas

Na manhã de ontem o avião particular da banda Calypso trazia seus integrantes de um show em Manaus (AM) até Belém (PA), porém devido a uma pane nos motores a aeronave caiu em um dos braços do rio Amazonas.

Milagrosamente todos os tripulantes sobreviveram. A vocalista Joelma, no entanto, ficará com seqüelas, sendo que ficou muda e nunca mais poderá cantar. Já o guitarrista Chimbinha teve seu cabelo queimado pela explosão, o que acabou com seu topete, com exceção deste incidente nenhum arranhão, o que ele considerou um milagre, em declaração à imprensa ele disse que em agradecimento dedicará o resto de sua vida a criar músicas instrumentais para o público gospel, porém ele ainda cogita a possibilidade de aceitar os convites de Joe Satriani e Slash para lhes dar aulas de guitarra.

Com o abandono dos dois principais integrantes a banda Calypso encerrou suas atividades, porém houveram várias manifestações no país. Cerca de 50 fans foram às ruas de Belém do Pará para pedir a volta da banda, já no restante do Brasil milhares se reuniram nas ruas para comemorar, alguns estados como São Paulo e Rio Grande do Sul declararam feriado. O presidente Lula falou em rede nacional sobre o acontecido:

- Companheiros e companheiras, esta é a melhor notícia que já ouvi desde que me contaram que Jesus morreu para nos salvar de nossos pecados.

domingo, 22 de agosto de 2010

Beba mi amigo, beba...

Era uma festa numa república, o negócio começou à tarde e moeu direto! Quando deu umas nove da noite a cerveja acabou, como eu ainda não estava muito bêbado o pessoal me deu dinheiro e a chave de uma Ford Courrier pra buscar cerveja, junto comigo ia um cara que eu tinha conhecido na festa pra passar em um lugar e comprar umas "coisas" que ele precisava desesperadamente (mas essa história não é sobre isso).

Quando eu estava entrando no carro o Higor (nome fictício) apareceu todo animadinho:

- Eu vou, eu vou, eu quero ir.

Expliquei pra ele que o carro só tinha dois lugares e já ia um outro cara, além disso todo mundo tinha bebido, se a polícia encontrasse três pessoas na frente aí é que a coisa ia ficar feia mesmo! Mas ele insistiu:

- Mas eu quero ir, eu preciso ir, eu vou, eu vou, eu vou!

Eu também já estava alegrinho e zuei:

- Higor, não tem como! Só se você for na carroceria!

Mal sabia eu o que tinha acabado de fazer!

- Beleza então! Eu vou!

Eu estava zuando, mas o Higor quando fica bêbado é insistente pra caramba, decidi nem discutir. Abri a carroceria pra colocar a caixa de cerveja e ele já foi entrando, sendo que teve que ficar deitado pra caber porque a capota era daquelas baixas.

Saí no carro e empolguei! esqueci de falar antes, mas o carro era 1.8 e corria muito, até tentei fazer ele andar devagar, mas ele não me obedecia!...
Nas curvas a gente sempre ouvia o som de alguma coisa indo de lado pro outro e batendo no lado do carro, até me preocupei com o Higor, mas o cara do meu lado me tranqüilizou:

- Deve ser a caixa de cerveja, pisa nesse acelerador cara!

Quando chegamos no posto pra comprar a cerveja abri a carroceria e puxei o Higor pra fora, ele parou em pé por um segundo e tombou pro outro lado, se a gente não o segurasse ele tinha esborrachado no chão!

Fiquei segurando ele de pé e o cara foi pegar a caixa de cerveja, só escutei o grito:
- Merda!

Quando olhei dentro da carroceria ela estava inteira suja de vômito, e o mais engraçado é que o Higor estava limpinho! Voltamos com o ele no banco da frente e devolvemos o carro pro dono sem falar nada, no outro dia ele deve ter tido uma surpresa...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Faz tanta falta

Era um grande amigo meu, porém já fazia muito tempo que não nos víamos, por isso não entendi quando ele me ligou chorando, mas amigos são amigos, fiz o que pude.

O encontrei no bar depois de uma meia hora, estava no balcão bebendo pinga, pedia uma dose atrás da outra e chorava copiosamente.

- E aí Marcão, calma cara, não sei o que aconteceu mas não é motivo pra desespero. O que aconteceu?... Sua mãe... foi?
- Que isso rapaz, tá ficando louco? O problema é que a Ermelinda me abandonou!

E dá-lhe lágrimas! O Marcão é ÃO porque ele é realmente grande, um negão três metros por dois, ver aquele monstro chorando era assustador, cada fungada parecia que ia me levar junto! Eu nem sabia que o sujeito tinha se casado, acho que devia ter só juntado os trapos com uma qualquer e pronto (bem que ele podia ter arranjado alguém com um nomezinho melhor né?).

- Calma Marcão, mulheres tem um monte por aí, com certeza você vai encontrar alguém melhor!
- IMPOSSÍVEL! Ela era simplesmente a melhor pessoa que eu já encontrei, era super cuidadosa, fazia tudo com zelo e carinho! Como é que eu vou fazer agora cara? Quem vai arrumar meu apartamento?Quem vai fazer comidinha pra mim, lavar minhas cuecas e passar minha roupa tão bem quanto ela?
- Isso é o mais fácil Marcão, o difícil é encontrar alguém que te ame como eu tenho certeza que ela te amou!
- Tu ficou louco Matheus? A Ermelinda era minha empregada! Arrumar mulher é fácil, o difícil é encontrar uma boa empregada! Você acredita que ela nunca deixou juntar pó atrás do guarda-roupas?

Fui embora sem nem me dar o trabalho de responde-lo.

sábado, 14 de agosto de 2010

A realidade já não me basta

Título auto-explicativo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

Beakman

Por algum motivo inexplicável o relógio não despertou, corri sem tomar nem café ou banho, provavelmente meu cabelo deveria estar como o do Beakman, cheguei uma hora atrasado na aula e a professora ficou me olhando feio por interromper a explicação. E pior que isso, não havia cadeira livre, tive que ir na sala ao lado buscar, ao finalmente me sentar ainda levei um cutucão da professora:

- Posso continuar a aula agora que o "atrasildinho" sossegou?

"Acontece", pensei comigo enquanto fazia sinal com a cabeça que sim. Ainda por cima me avisaram que ela já tinha feito chamada. Ao final da aula, depois de praticamente três horas plantado olhando para a lousa sem entender praticamente nada do que a mulher falava resolvi ir pedir presença.

- Você chega duas horas atrasado e ainda tem a pachorra de vir me pedir pra tirar sua falta? Você não acha que está abusando não? Vai ficar com falta! E agradece por eu não ter te expulsado da sala por ficar de burburinho com os outros e atrapalhando os alunos que queriam aprender alguma coisa...

Nem respondi, achei melhor não ofender a mulher que ia decidir minha nota no final do semestre. "Acontece", esse tipo de coisa sempre "acontece".

Animado com minha manhã fantástica fui para o ponto de ônibus pra ver se eu chegava em casa logo. Quando eu estava chegando o ônibus passou, ainda dei um sinal pra ver se ele parava fora do ponto mas o motorista só me deixou um sorriso sarcástico e a certeza de mais trinta minutos prostrado esperando outro ônibus. Na correria pra chegar na aula esqueci de pegar um livro (sempre carrego um pra esse tipo de emergência), o que me forçou a ficar olhando o horizonte por 1800 segundos intermináveis. "Acontece", pensei cá eu com meus botões.

Cheguei em casa quase morto de fome. Coloquei a comida pra esquentar quando tocou a campainha. Era um sujeito com roupas imundas, uma garrafa pet de dois litros na mão e cara de "acabei-de-acordar-pelo-sexto-dia-consecutivo-de-ressaca".

- Bom dia!
- Só se for pra você! Eu não costumo ser assim tão ríspido, mas o dia não estava me ajudando a ser muito diferente.
- Ãhn?
- Nada não, pode falar!
- É que eu moro no aeroporto e trabalho ali perto do centro, eu estava indo para o trabalho e acabou minha gasolina, será que o senhor poderia me dar uma ajudinha pra comprar dois litros de combustível e poder acabar de chegar? Eu recebo amanhã e passo aqui pra lhe devolver o dinheiro, pago até com juros, prometo por Nossa Senhora....
Óbvio que eu já não estava mais aguentando a falação do sujeito, e o bafo eu estava aguentando menos ainda! Enfiei a mão no bolso.
- Tá bom, tá bom, toma aqui ó, eu tenho trinta centavos.
- Só trinta centavos? Pode ficar, não dá nem pra comprar uma pinga! E saiu sem nem me falar obrigado.

"Acontece, acontece"...

Bastou colocar minha cara de tacho pra dentro de casa que senti o cheiro. Corri mas não adiantava mais, todo meu almoço estava queimado. Joguei-as dentro da pia e joguei uma aguinha pra ficar de molho. Engoli um pacote de bolacha inteiro - não sei se de fome ou de raiva - e fui tomar um banho pra ver se tirava a zica.

No meio do banho o chuveiro queimou, acabei de me enxaguar rapidamente enquanto a água me gelava os ossos. Pensei comigo que esse tipo de coisa "acontece", com todo mundo, "acontece..." ACONTECE O CARAMBA! Mal dia, mal dia, mal dia...

Tinha que fazer trabalho na biblioteca às três, deitei pra dormir um pouquinho antes.

"TTRRRRIIIIMMMMM"

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

- Alô.
Sem resposta.
- ALÔ!
-Oi, desculpa, não estou te ouvindo bem, você está na linha?
- Sim, estou!
- Então sai da frente senão o trem te atropela! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Antes que eu pudesse xingar qualquer coisa desligaram. Como é possível isso tudo comigo em um dia só? Mal dia, mal dia, mal dia...

Voltei para a cama.

"TTRRRRIIIIMMMMM"

Mas não é possível! Seria o Benedito? Lá fui eu.

- Alô.
- Boa tarde, aqui é da assistência técnica da net (aqui em casa telefone, TV a cabo e internet são da net, com certeza não era trote), estamos tendo alguns problemas técnicos em seu bairro, o senhor poderia verificar por favor se sua TV está no ar?
- Só um minutinho. Corri, liguei a TV e voltei.
- Está no ar sim!
- Então sai de baixo senão ela cai na sua cabeça! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Novamente não consegui nem abrir a boca e eles desligaram. Não consegui nem mesmo pensar em nada, tirei o telefone do gancho e fui pra cama, tinha ainda uma hora pra dormir antes de sair pra fazer o trabalho.
Dormi e dessa vez o celular despertou na hora. Me levantei, me arrumei, e assim que coloquei o telefone no gancho pra sair ele tocou, desconfiei que pudessem ser aqueles malditos de novo, mas vai que alguém morreu e precisassem me avisar? Se eu perdesse o velório da tia avó da prima da minha vizinha ou de qualquer outra pessoa por não atender o telefone eu nunca me perdoaria (eu e minha cabeça cheia de minhocas)!

- Alô.
- Quem fala?
- Aqui é o Matheus.
- Oi Matheus, aí é onde estavam passando vários trotes algum tempo atrás?
- Sim, é aqui mesmo, por que?
- Por nada, é que achei que tinha esquecido seu número, ainda bem que ainda lembro! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Nem me importei que ele já tivesse desligado, xinguei todos os nomes feios e impropérios possíveis, acho inclusive que inventei alguns (não me pergunte como nem de onde saíram, muito menos seus significados)!

- Filho de uma rapariga! Sua mãe não tem dente! Seu pai tem um caminhão cheio de galinhas e dirige sem camisa! A bacia da sua casa tem óleo de rícino! Seu pé tem cheiro de chulé cor-de-rosa e sua mãe gosta de geléia de espinafre com couve!

Saí com minha bicicleta louco da vida, agora já atrasado uns cinco minutos. Três quadras pra baixo de casa o pneu furou.

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

Voltei correndo pra casa, guardei a bicicleta e fui pegar o ônibus. Nem preciso dizer que ele passou quando eu estava chegando no ponto né?

Quarenta e quatro minutos após do combinado cheguei para fazer o trabalho. Acho que minha cara de desespero estava tão terrível que ninguém questionou minha justificativa para o atraso. Depois de duas horas de discussão ferrenha em que eu estava SEMPRE errado, acabamos e fui para o ponto pegar o ônibus pra ir para casa.

Mal cheguei no ponto e vi um ônibus descendo. Beleza, pensei eu, enfim alguma sorte neste dia de cão! Estava lotado, não caberia nem uma agulha dentro daquele ônibus, definitivamente ônibus não é como coração de mãe, passou reto sem nem perceber minha existência. Dez minutos depois chegou outro ônibus, lotadíssimo, mas parecia ter algum espaço, entrei e fiquei nos degraus da frente. Foi só então que pensei, nossa, eu desço bem no começo do bairro, não vai dar pra passar na roleta e chegar até os fundos para descer. Com minha melhor cara de piedade conversei com o motorista:

- Moço, será que posso pagar pro cobrador e descer aqui pela frente? É que meu ponto já é aquele da padaria do Seu Nestor, então acho que não vai dar pra eu chegar até a porta dos fundos a tempo.

Subitamente o motorista freia, encosta o ônibus e abre a porta. A freada foi tão brusca que voou gente pra todo lado, xingamento então nem se fala! "Isso aqui não é carga de porco não seu louco! Comprou a carteira seu Zé Mané? Cuidado que desse jeito vou machucar sua mãe aqui no cantinho...

- Pode descer agora do meu ônibus! Ninguém aqui desce pela frente, é por causa de gente folgada como você que o país está essa merda! Vaza moleque!

Mal dia, mal dia, mal dia, mal dia...

Desci do ônibus sem dar nem um pio, só o que as 395 pessoas que estavam dentro daquilo estavam berrando para o motorista já eram o suficiente pra pobre mãe do sujeito ficar sem dormir pro resto da vida.

Acabei de chegar em casa a pé, não falei nada com ninguém, fui direto pra cama pra ver se aquele dia acabava e vinha outro decente um mínimo que fosse. Quando estava finalmente pegando no sono escutei

- Um, dois três e...

A banda do vizinho começou a tocar. Além de tocar mal os pivetes tocavam músicas horríveis! Os caras tocaram Velvet Revolver, NX Zero, Restart e uma música do Fábio Júnior que eu não tenho a mínima idéia de onde eles conheciam ou tiveram idéia de tocar.

Porém o pior mesmo foi a única vez que tentaram tocar uma música legal, era pra ser "Help" dos Beatles, mas aquela "coisa" (falo coisa porque chamar aquilo de música é ofender e desclassificar até mesmo as produções menos sofisticadas da Xuxa) parecia uma mistura Mambo, tecnobrega, rock e tango. O vocal parecia um cruzamento de Calipso (não sei o nome daqueles cabelos esvoaçantes) com Nelson Ned, a percussão estava tocando um reggae que parecia ser do Jason Mraz, a guitarra tocava uma música dos Strokes (!) e o baixo, bem prefiro não comentar.

Vocês viram que eu aguentei muita coisa nesse dia, mas a única hora que realmente tive vontade de chorar foi nesse momento, o que eles fizeram com aquela música foi algo pior do que o que o goleiro Bruno "teoricamente" (não provaram nada ainda né?) fez com a namorada.

Era tanta raiva que fiquei paralisado por uns dez minutos. Quando finalmente comecei a me movimentar olhei para as horas, 20:47. Levantei, tomei um calmante e deitei, fiquei com a luz acessa olhando para o relógio, acho que meu cérebro travou por um tempo, não lembro de ter pensado nada. Quando deu 22:01 liguei para a polícia, que pelo visto não tinha muito o que fazer, pois depois de uns dez minutos já estavam dando bronca na molecada e explicando que segunda-feira (tinha que ser) não era dia de tocar som naquela altura e tals. Pelo que eles tinham feito com a música dos Beatles eu achei que eles mereciam prisão perpétua, mas só o fato deles se calarem já me deixou muito feliz, pelo menos eles não tiveram a chance de assassinar nenhuma música dos Stones.

Deitei. Porém mal tinha encostado a cabeça no travesseiro quando todos, repito: TODOS! SEM EXCEÇÃO! Todos os cachorros da vizinhança decidiram latir juntos. Levantei e abri a janela, a lua estava linda.

- Meu Deus do céu! Será que você não está vendo nada do que aconteceu comigo hoje não?

Repentinamente todos cães pararam, tomei um baita susto. Olhei desconfiado para todos os lados mas não vi nada. Fechei a janela, deitei e dormi sem ouvir mais nenhum pio.

Os vizinhos devem rir
por trás do jornal
e eu desconfio de um complô
o maior que já se armou
uma conspiração internacional...




Ps: só para confirmar a desconfiança daqueles que tem um pouco de cultura (rsrs), o título desse post é baseado no Tio do desenho do Jackie Chan.

Ps2: Aqui em casa a gente usa net mesmo, não é jabá! Rsrs

domingo, 8 de agosto de 2010

Saudade

Escolhera a solidão.

Porém naquele dia se lembrou das festas, não das grandes com milhares de desconhecidos e bebida o suficiente para todos morrerem de overdose, mas daquelas pequenas que terminavam com ele tocando seu violão e com um coro de desafinados que mal sabia as músicas, mas tinham olhos que refletiam a luz da fogueira tão intensamente quanto a vontade de viver que sentiam.

Chorou.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lambari ou girino?

Éramos em oito irmãos, duas meninas e seis meninos, na pobreza da roça todos viviam descalços, mas felizes, livres para fazer o que queríamos como queríamos na hora que quiséssemos.

Eu sempre andava grudado com um dos meus irmãos mais velhos, o Zeca, que devia ter uns nove anos na época dessa história, e eu tinha uns sete. Perto de casa passava um pequeno riacho que desaguava em um rio enorme que a gente chamava de rio grande e depois de mais velhos descobrimos que o nome dele realmente era esse.

Acontece que um dia decidi que queria aprender a nadar como meu pai fazia, pedi ajuda ao meu irmão e ele me explicou:

- Eu falei com o tio Zé e ele falou que pra aprender a nadar tem que engolir um peixe vivo! Pode ser daqueles pequenininhos que nadam lá no brejo!

Não tínhamos muito o que fazer mesmo, corremos para o brejo com uma peneira em mãos e lá estavam eles, aos montes, nadando como eu queria nadar. Na primeira peneirada pegamos um monte, haviam de várias cores, eu peguei um meio cinza e dourado, meu irmão pegou um pretinho e mandamos guela abaixo, foi meio estranho mas a gente queria aprender a nadar né? Enquanto esperávamos alguns minutos descemos até a foz do rio grande.

Depois de uma boa insistência do meu irmão fechei os olhos e pulei na água com tudo, como estava raso fiquei de pé, meu irmão então começou a rir de mim e disse que a história do tio era mentira e que eu continuava sem saber nadar. Fiquei bravo, corri mais para o fundo do rio e submergi, abri os olhos e consegui ver tudo, o fundo do rio era lindo, haviam pedras de todas cores e tamanhos, comecei a nadar - sim, eu estava nadando - para o meio do rio, foi quando comecei a ver os peixes, haviam bagres, dourados, tucunarés e milhares de peixes que eu nunca havia sequer visto, era tudo lindo e maravilhoso, num dado momento percebi que eu não precisava respirar, não tenho idéia do que estava acontecendo, mas encantado com tudo aquilo continuei a nadar junto à corrente do rio.

Quando me dei conta já estava escuro, olhei pra cima e através da leve ondulação das águas pude ver a lua cheia, minha mãe devia estar louca me procurando, como pude perder de tal maneira a noção do tempo? Tirei a cabeça pra fora da água e o clarão do luar, para meu desespero, me mostrou que eu estava em lugar totalmente desconhecido. Nadei como louco de volta, minha mãe ia me bater muito! Apesar dos meus esforços a subida foi lenta, entendi o sentido de lutar contra a corrente, quando avistei o pequeno canal onde o brejinho desaguava no rio o sol já ia a pino.

Apesar da fraqueza devido ao imenso esforço, corri como louco até chegar em casa, qual foi o meu susto quando cheguei já esperando os gritos e ninguém me notou. Todos estavam amontoados no quintal olhando o Zeca, meu irmão pulava mais alto que meu pai e esticava a língua, pegava insetos e os comia. Aproveitei pra não levar bronca, passei de fininho por trás de todo mundo e fui dormir no meu quarto...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Por si move?

Sinto que o bonde de meu tempo passou e ao invés de correr atrás dele ou tentar alcançá-lo fico a observar os bondes dos tempos que não são meus, as vezes entro em algum, não são de todo ruins, o problema é que não há identificação, é como se mudar pra uma aldeia indígena, você pode achar tudo lindo, mas nunca será o seu lugar.

Eu deveria ter tido pelo menos mais umas duas ou mais namoradas, pelo menos mais uns dois empregos, mais uns seis ou sete arrependimentos, mais umas cinco decepções amorosas e no mínimo mais uma tonelada de histórias.

Vinte e três anos nas costas e não fiz nada do que deveria. Não plantei uma árvore, não tive um filho e muito menos escrevi um livro, ou seja, se eu batesse as botas nesse exato instante provavelmente eu estaria totalmente morto assim que meus pais finalmente se fossem, já que nem minha irmã me ama o suficiente para passar minha memória e história para meus sobrinhos, depois de uns 30 anos de minha morte estarei totalmente esquecido, exceto pela minha certidão de óbito em algum arquivo de cartório imundo e empoeirado.

Sei, sei exatamente o que eu devia fazer. Acordar amanhã e correr atrás dos meus planos, dos meus sonhos, buscar a felicidade e a eternidade que eu tanto sempre quis. O problema é a física. A inércia e a gravidade me prendem e me impedem de sair do lugar, e não adianta me falar que isso segura a todos e eles conseguem superar, porque a lei da relatividade mostra que para mim tudo é diferente.

Vontade, é a chave. O que me move? Aliás, o que te move?