quarta-feira, 28 de julho de 2010

A felicidade é doce

Os pés sujos e descalços sobre a varanda de terra batida da frente da casa mostravam a situação financeira da família.

Todo mundo tem um, dois, três ou mais primos pobres na família, muitos fazem questão de visitar e manter contato apenas com aqueles que possuem um nível sócio-econômico próximo ao seu. Era nisso que ele diferenciava de quase todas pessoas e do restante de seus consangüíneos.

Lá estava ele, diante daquela criança de pouco mais de quatro anos, as pernas sujas tinham vários roxos que pareciam ser de brincar na rua e fazer "artes", a pobreza até que tem seus prós.

Pediu um abraço, o guri ficou receoso de abraçar o primo, apesar de conhece-lo, ele sabia que a mãe ficaria brava se sujasse a roupa limpa do doutor (que se chamava Marcos). Mas a insistência não permitiu que o ele titubeasse mais, correu e o abraçou. Os sorrisos tinham motivos distintos, mas ambos muito sinceros, um sorria porque há muito não recebia um carinho e o outro porque há muito não via alguém que precisasse tanto de um.

Sentou-se ali mesmo, no chão, e conversou e conversou e conversou com a criança. Quando chamam esses bacuris de carentes não é só porque às vezes eles não tem o que comer, mas porque carinho, atenção e amor às vezes são o que mais lhes fazem falta.

Onde eu estava mesmo?

Lembrei (mentira, li aí em cima mesmo)! Sentado no chão de terra com o menino, pôde suprir um pouco do que ele precisava, e como só esse tipo de criança sabe fazer quando alguém lhe dá ouvidos, o projetinho de gente começou a falar tudo o que sabia e queria e podia o mais rápido que conseguiu. Quando já tinha falado quase tudo e o doutor (que na verdade não era doutor coisa nenhuma, apenas formado em um curso superior qualquer, mas para o menino aquilo era ser doutor) já começava a pensar de onde saía tanto fôlego o rapazinho falou algo que o chocou.

- ... e aí quando eu crescer eu vou trabalhar muito muito muito pra ganhar cinco reais e comprar aquelas barras de chocolate do mercado pra mim e para os meus irmãos...

Marcos não conseguiu escutar mais nada. Entrou em choque. Provavelmente o menino pediu para o pai o chocolate e eles lhe disseram que era muito caro e que só com muito trabalho um dia ele poderia comprar algo daquele tipo. Embaraçado com a situação fez o que qualquer pessoa decente faria, se levantou e se despediu do garoto com um forte abraço, entrou no seu carro e sumiu, nem se deu ao trabalho de chegar até a casa para cumprimentar os pais do garoto.

No outro dia pela manhã voltou com uma caixa enorme (enorme mesmo, era uma caixa de microondas) cheia de chocolates dos mais diversos tipos, as lágrimas do garoto ao se misturarem com as suas na hora do abraço foram a emoção mais verdadeira que teve em muito tempo.

Os chocolates lhe custaram o salário do mês, mas a felicidade que aquele momento proporcionou marcou para sempre sua memória.

13 comentários:

  1. Nossa, que texto lindo!
    Esses tipos de ações são muito bonitas e sempre devem ser feitas, mesmo que sejam pequenos gestos como um simples 'bom dia'

    Ótima semana
    ;*

    Marina

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  2. Oi...

    Gostei muito do texto....um conteúdo verdadeiro.

    Pequenos gestos,ou sinais....temos que estar atentos....esta carência é nossa.

    abraço!
    Zil

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  3. Eu fico tão feliz ao ler seus textos e ver que ainda existem pessoas com "coração" totalmente aberto pro mundo, pras pessoas, pra vida em si.
    Parabéns pelo texto, realmente lindo.
    Mas acima de tudo, parabéns pela pequena amostra de que o mundo pode ser um pouco melhor se a gente quiser, e a gente pode chegar lá.

    Beijos mil coisa linda.

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  4. e a felicidade se encontra em detalhes...

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  5. ...existem coisas que o dinheiro
    não compra,
    mas ainda bem que existe tbm o dinheiro
    para confortar, alegrar, emocionar
    coraçõezinhos como os deste post
    maravilhoso.

    adoro teus contos...

    deixo meu beijo

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  6. Lindo texto mesmo.
    Felicidade não tem preço, nem medida quando vem assim, de coisas simples.
    Sumi mesmo, muita coisa acontecendo. Volto ao ritmo logo heheheh
    17 de agosto chegando! hahahah

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  7. Ah, que lindo texto!!
    Adorei seu cantinho. Estou seguindo!

    Beijos!

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  8. ADOREIIIIIII pow vc tem uam facilidade de escrever, descrever,Ccntar....realmente adorei visse....(tenho alergia a chocolate) rsr deuuu uma vontade de me arriscar nessa doce felicidade...hehe

    XEROOOOO

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  9. ...boa idéia meu querido!

    assim que meu bloguito começar a parar
    em pé sozinho, é claro que o levarei
    direto para a escolinha!!!

    rsrs

    um beijo, menino lindo!

    obrigada pelo carinho de sempre!

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  10. Simplesmente lindo. Sabe, gosto muito da simplicidade, ela geralmente traz um sentimento de verdade, de pureza, e seu texto passou muito isso. Adorei!
    De fato, fazer "sacrifícios" em prol do próximo, é também trazer não só a felicidade para a pessoa que recebe o benefício ou o presente, mas também para aquele que doa, ou presenteia. Os humanos sabem disso, todos sentem essa alegria ao presentear alguém e ver que a pessoa gostou, mas nosso egoísmo, nossas posturas (como vc bem colocou, que um primo se relaciona com outros do mesmo nível social), fazem com que a gente se afaste de certas situações e das pessoas mais carentes, para evitar a sensação de que "eu posso fazer algo por ele", sacrificando o dinheiro da balada da festa que vai ter no fim de semana.
    Seu texto mostra muito bem, como é muito grande e gratificante fazer algo simples por alguém que as vezes pouco tem, dando um abraço e um presente "doce", do que recusar a ver e a tocar nas pessoas, pois nenhuma pessoa tem valor, pq simplesmente todos são seres humanos, somos todos iguais.

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  11. essa pessoa existe? existiu? sei lá.
    são poucos os que se deixam emocionar com essa realidade dolorosa.
    muito sensível!

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  12. Uauu, que lindo!!!
    Caridade...acho que faz tanto bem pra quem pratica, quanto pra quem recebe.
    Hoje em dia falta caridade nas pessoas.

    Beijocas

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